Mais de cinco anos de trabalho foram investidos por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) na prospecção de soluções de estocagem subterrânea de gás natural. Uma tecnologia utilizada há mais de 40 anos em países como França, Alemanha, Rússia e Estados Unidos foi considerada a melhor alternativa para ser implantada no Brasil.
A necessidade de escolher uma solução aumentou após a descoberta, em 2003, da reserva da Bacia de Santos, com estimados 400 bilhões de metros cúbicos de gás. Como esse estoque está a 160 quilômetros do litoral paulista, para colocar o gás à disposição dos consumidores, além da construção de tubulações na Serra do Mar, seriam necessários reservatórios estratégicos próximos aos centros de consumo para evitar interrupções no fornecimento.
“Quando o estoque da Bacia de Santos começar a ser utilizado, o gás natural poderá definitivamente fazer parte da matriz energética brasileira. E estocar grandes quantidades do combustível em regiões próximas a centros urbanos será fundamental”, disse Wilson Shoji Iyomasa, coordenador do estudo e pesquisador da Divisão de Geologia do IPT. “A Petrobras estima que o gás da Bacia de Santos começará a ser utilizado em 2009.”
A tecnologia, consagrada em outros países mas nunca utilizada no Brasil, consiste em identificar estruturas geológicas porosas que contenham água em seu interior. Injetado sob alta pressão, o gás expulsa o líquido e ocupa o espaço. “Essas estruturas são exatamente as mesmas que armazenam petróleo. Elas são hermeticamente fechadas por formações rochosas e o líquido fica dentro dos poros”, explica Iyomasa.
Os resultados do estudo, que contou com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Petrobras, no âmbito do fundo setorial CT-Petro), estão publicados no livro "Estocagem subterrânea de gás natural: tecnologia para suporte ao crescimento do setor de gás natural no Brasil", lançado pelo IPT e organizado por Iyomasa, Cláudio Goraieb e Ciro Appi, também do instituto.
Durante as pesquisas, dez estruturas geológicas foram identificadas no Estado de São Paulo, por meio de levantamento geofísico, da interpretação de imagens de satélite e de métodos de monitoramento não destrutivos em superfície. “Desses dez reservatórios subterrâneos, pelo menos seis têm boa estrutura, cada um com potencial para armazenar entre 1 e 2 bilhões de metros cúbicos de gás filtrado”, disse Iyomasa.
Isso sem contar as antigas áreas de exploração de petróleo espalhadas por todo o país, onde seria possível, como mostra o estudo, estocar o gás e também retirar parcelas remanescentes do óleo. “Em média, em um processo de extração convencional, só se consegue extrair 60% do petróleo de um reservatório. Com a injeção controlada do gás, seria possível tirar pelo menos 20% do volume restante”, calcula Iyomasa.
A publicação está sendo distribuída gratuitamente. Os interessados podem solicitar um exemplar pelo e-mail livraria@ipt.br.
(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 02/10/2006)