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2006-10-02
Visionários os finlandeses quando elegeram o cisne como animal-símbolo de um dos países mais ao Norte do mundo - não por acaso endereço oficial do Papai Noel. Se o desenvolvimento fosse uma fábula, a Finlândia seria uma versão da história do patinho feio. Há pouco mais de uma década, era uma nação subdesenvolvida e subpovoada à sombra da foice da antiga União Soviética - com um idioma tão difícil como suas condições climáticas, desemprego perto de 20% (em 1994) e uma coleção de colapsos financeiros. Hoje é uma das mais glamourosas e prósperas economias do globo.

Mesmo quieto e discreto - diz-se que os finlandeses calam em duas línguas (finlandês e sueco, os idiomas oficiais) -, o país angariou a admiração e os holofotes internacionais. E não apenas pela bela fisionomia do seus habitantes, donos do cobiçado fenótipo de cabelos dourados e olhos azulados, trivial em qualquer estação de trem.

Em uma dezena de invernos, os finlandeses colecionaram um acervo de reluzentes títulos internacionais: têm uma das melhores distribuições de riqueza do mundo e uma das menores cargas de trabalho (37,5 horas semanais e cinco semanas de férias por ano, pelo menos). Exibem a maior densidade de celulares e uma das maiores de uso per capita de Internet, o maior índice global de sustentabilidade ambiental, o segundo maior de competitividade e o segundo menor de corrupção.

Ademais, o país é o principal fornecedor mundial de papel de imprensa e responsável por um terço de todo o suprimento de papel da Europa. Também é berço da maior empresa de celulares do globo, líder na fabricação de máquinas para celulose e papel (domina um terço do segmento), na produção de alta tecnologia e na montagem de navios. E, para descansar de tanto suador, a maior concentração de saunas do planeta.

Na raiz de tudo está um mar verde de árvores - sobretudo pinheiros e bétulas - que cobrem 73% do território. E são, em sua maioria, usadas para fins comerciais e industriais. Os bosques, que foram durante séculos o tronco da economia do país, ainda são hoje a maior fonte de matéria-prima e a segunda maior geradora de renda e de emprego. Só atrás da alta tecnologia - cuja origem, aliás, está na indústria florestal.

Até a Nokia, maior empresa finlandesa da atualidade, tem seu leito no pé de uma árvore: o grupo brotou há 140 anos como fábrica de papel na ilha de Nokia, no rio Nokia. A exemplo dela, os principais setores - química, metalurgia, serviços - surgiram a partir de ramificações de negócios com florestas.

O enigma da Finlândia, aliás, está no paradoxo da coexistência entre uma das mais antigas atividades de extrativismo que se conhece e o ultra-avançado negócio de tecnologia: lá, o Papai Noel ainda circula de renas, mas guiado por um celular com mapa de localização GPS.

- Nossa fórmula é verde e limpo (um trocadilho em inglês: "green and clean"). E levamos isso muito a sério - resume Risto Näsi, vice-presidente da Neste Oil, empresa de energia. Lurdete Ertel viajou para Finlândia a convite da confederação das indústrias do país, a Finnfacts

Ordem é plantar mais do que cortar
Embora transformada num exemplo típico de economia industrial avançada, a terra do Papai Noel ainda hoje tira das árvores 8% do Produto Interno Bruto e cerca de 30% de suas exportações - de vários produtos florestais, desde madeira e móveis a papel e celulose. O segmento continua uma das vigas da Finlândia e faz dela uma das nações mais dependentes dos bosques.

Cientes de que seu ouro verde é esgotável, os finlandeses entalharam o conceito de "silvicultura sustentável": a ordem é plantar mais árvores do que cortar. E não é apenas bordão para apaziguar ambientalistas. Nos últimos 40 anos, o plantio superou os cortes de 20% a 30%.

Graças a incontáveis programas de proteção e milhões em investimentos, o país tem hoje o maior carpete de árvores de todos os tempos, afiança Jari Parviainen, do Centro Nacional de Pesquisa de Florestas.

Os bosques também são importante fonte energética: - Cerca de um quinto da energia finlandesa vem da madeira - calcula Stefan Sundman, diretor da Federação das Indústrias de Florestas. Enfatiza que não se trata da queima direta de árvores. Só as sobras são usadas para energia, garante.

Apesar de ter algumas das maiores empresas mundiais do ramo, a silvicultura finlandesa ainda tem forte presença familiar, de minifúndios. Estima-se que haja 900 mil proprietários de bosques no país. Ou seja: um entre cada cinco finlandeses é dono de árvores.

Mesmo a população urbana rega suas raízes nas matas: o mais popular modo de lazer (ao lado da sauna) é passear e passar temporadas nos bosques. Sobretudo em cabanas rústicas, uma instituição. Há 400 mil delas espalhadas no país, sobretudo à beira dos 188 mil lagos - uma cabana para cada 13 habitantes.
(Por Lurdete Ertel, Zero Hora, 30/09/2006)
www.zerohora.com.br

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