Infra-estrutura inadequada cria crise de água na Índia
2006-10-02
O fabuloso rio Yamuna, cujas margens deram origem há cidade de Nova Déli há mais de 2.000 anos, é tema de um estudo de caso sobre a crise da distribuição de água que a Índia enfrenta. Na mitologia hindu, o Yamuna é considerado um rio que caiu do céu até a Terra. Hoje em dia, o rio clinicamente está morto.
Quando o Yamuna entra na capital do país, ainda relativamente limpo de sua trajetória de 400 quilômetros descendo do Himalaia, a agência de saneamento básico da cidade extrai 866 milhões de litros todos os dias, a maior fonte de água potável do país. Enquanto o suprimento de água da cidade possui uma rede de cerca de 9.000 quilômetros de rede pública de encanamentos, entre 25 e 40% possui vazamentos.
Com o aviso de “crise de água sem paralelo”, a New Delhi Human Development Report mostrou em agosto que descobriu que um quarto das famílias de Nova Déli não tinham acesso à água encanada, e que 27% possuem água menos de 3 horas por dia. Aproximadamente dois milhões de famílias, o relatório também descobriu, não possuíam toalete.
Quando o Yamuna deixa a cidade, ele se torna o esgoto principal para os detritos de Nova Déli. Os habitantes da cidade depositam 3,5 bilhões de litros de esgoto no rio todos os dias. Cruzando a capital, o rio se transforma em um nocivo rio preto. Massas de detritos flutuam pelo rio. O gás metano borbulha na superfície. Uma vistoria do governo descobriu no ano passado que o nível de coliforme fecal, um teste que mede a sujeita, era 100.000 vezes além do limite seguro para o banho.
Em 1992, a Suprema Corte ordenou que autoridade de água da cidade tratasse todo o esgoto que flutua no rio e melhorasse a qualidade da água. Já se passou 14 anos e nada foi feito. A população de Nov Déli, atualmente de 16 milhões de pessoas, expandiu cerca de 41% nos últimos 15 anos, segundo estimativas oficiais. Como o número de pessoas que vive na cidade decolou, em média mais da metade do esgota depositado no rio não é tratado.
A construção de mais estações de tratamento de esgoto fez pouco para parar com o fluxo de esgoto, em parte devido às linhas de esgoto serem mal-obstruídas e devido ao poder fracassar a deixá-los inoperáveis por algumas horas. “A situação não melhorou devido à quantidade de esgoto estar constantemente aumentando”, afirmou R.C. Trivedi, diretor do Central Pollution Control Board, que monitora a qualidade da água do rio Yamuna.
A situação em Nova Déli, e em toda Índia, provavelmente só piorará. A Índia atualmente utiliza cerca de 758 bilhões de metros cúbicos de água todos os anos – isso é mais do que toda a capacidade do lago Erie. Todavia, a necessidade de água está crescendo, e em 2050, indicam as projeções oficiais, a demanda será o dobro da atual, e excederá o 1,2 trilhão de metros cúbicos que a Índia possui a sua disposição.
Um paradoxo da crise de água na cidade é que Nova Déli, no geral, não carece totalmente de água. O problema é a distribuição, atrasada por uma infra-estrutura que carece de recursos, segundo Arun Mathur, presidente executivo da Jal Board.
(Por Somini Sengupta, The New York Times, 29/09/2006)
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