Taxa sobre semente de soja transgênica cai 40%
2006-09-29
A taxa tecnológica paga pelo produtor para usar a semente de soja transgênica nesta safra será 40% mais barata que a do ano passado. Os royalties cobrados pela multinacional Monsanto, detentora da tecnologia Roundup Ready (RR), passaram de R$ 0,50 para R$ 0,30 por quilo de semente certificada.
A medida deve estimular os produtores a plantar soja transgênica, disse Ivo Carraro, diretor-executivo da Cooperativa de Pesquisa Agrícola (Coodetec), com sede em Cascavel, que recebeu anteontem a equipe de técnicos e jornalistas do projeto Rumos da Safra. No ano passado, a área coberta com soja transgênica no Paraná ficou em torno de 19%, segundo a Monsanto.
A exemplo dos técnicos da Embrapa Soja, em Londrina, o diretor da Coodetec prevê um grande aumento de área cultivada com soja transgênica. Ele acredita que mais de 50% dos 3,9 milhões de hectares dedicados ao grão devem ser cobertos com semente geneticamente modificada.
Carraro prevê ainda que haverá redução na pirataria de sementes. “Fica mais barato pagar a taxa tecnológica na compra da semente legal do que (a indenização) na comercialização do grão”, considera.
A Monsanto confirma o novo preço dos royalties e diz que a redução “pretende estimular o uso de sementes legais nas lavouras”. O novo valor teria sido estipulado depois de discussões com as lideranças da cadeia produtiva da soja. No ano passado, em todo o país, foram vendidas aproximadamente 2,4 milhões de sacas de sementes certificadas de soja transgênica.
O valor da taxa tecnológica na safra 2005/06 era de R$ 0,88, segundo a Monsanto. Na prática, porém, a cobrança foi de R$ 0,50. Os R$ 0,38 restantes, repassados à cooperativa ou ao multiplicador de sementes a título de despesas operacionais com a soja geneticamente modificada (OGM), não foram cobrados do produtor.
Outra mudança para este ano é que a venda da semente certificada não fica condicionada ao pagamento da taxa tecnológica no ato da compra. O valor do Direito de Propriedade Intelectual (DPI) pode ser pago por meio de um boleto bancário, emitido quando o produtor retira o produto na revenda.
O acordo fechado entre a multinacional e o comércio de sementes oferece prazos para o pagamento. O diretor da Coodetec explica que o produtor tem três opções. A primeira é pagar o boleto até 31 de dezembro – neste caso, o valor da taxa tecnológica será equivalente a 1% da produção. Se o produtor comprou semente legal, mas preferiu pagar os royalties no final da safra, o custo tecnológico vai representar 1,56% do resultado financeiro da colheita (desconto de 22% sobre os 2% por ter adquirido produto certificado). Na terceira alternativa se encaixam aqueles que utilizaram semente “salva” ou “pirata”, que precisam pagar 2%.
Rumos da Safra
A equipe do projeto Rumos da Safra, que esta semana passou pela região Oeste do estado (Cascavel e Toledo), chega hoje a Pato Branco (Sudoeste). Amanhã, a expedição estará em Guarapuava (Centro-Sul). A última etapa da sondagem, que tem por objetivo fazer um acompanhamento da safra 2006/07, ocorre na próxima semana, nos Campos Gerais. As reportagens serão publicadas no caderno Caminhos do Campo, em outubro.
Produtor calcula que vai economizar R$ 2,4 mil
Toledo – Para o produtor Nelson Paludo, que planta 200 hectares de soja transgênica em Toledo (Oeste), a redução da taxa tecnológica vai representar uma economia de R$ 2,4 mil. O gasto com semente cai de R$ 30 para R$ 18 por hectare. Nas contas do agricultor, que utiliza 60 quilos de semente por hectare, essa diferença é contabilizada como redução no custo de produção. “É um dinheiro que deixa de ser desembolsado”, explica Paludo.
Na última safra, o grão transgênico cobria 70% da sua área de soja. Este ano, a lavoura será totalmente cultivada com variedades geneticamente modificadas. Na opção pelo transgênico, ele considera aspectos como o custo de produção, flexibilidade no manejo e, agora, a redução no preço dos royalties.
Outro motivo, segundo Paludo, é que na safra anterior ele separou a soja convencional, mas não obteve nenhum diferencial de preço na comercialização. “Recebi a mesma coisa pelo grão transgênico e pelo convencional.”
Ele ainda faz as contas dos benefícios indiretos com a soja RR, como a eficiência na colheita, que no seu caso se traduz em menor consumo de óleo diesel. “Numa área com soja convencional consigo colher de 900 a 1.000 sacas por dia. Quando a lavoura é transgênica, o desempenho é de 1.300 a 1.500 sacas por dia.” Devido à baixa infestação de plantas daninhas, Paludo consegue colher mais em menor tempo, utilizando menos hora/máquina.
Atualmente existem 87 cultivares de soja OGM registradas no Brasil, de seis empresas de pesquisa e melhoramento. As variedades convencionais oferecem mais de 600 opções.
A semente representa, em média, 15% do custo de produção da soja, enquanto o óleo diesel ultrapassa 10% desse orçamento.
(Por Giovani Ferreira, Gazeta do Povo, 28/09/2006)
http://canais.ondarpc.com.br/gazetadopovo/economia/conteudo.phtml?id=602023