Rússia suspende licença ambiental em gigantesco projeto de petróleo e gás, o Sakhalin II
2006-09-29
Receber o total endosso de grupos ambientais líderes no mundo é algo raro para o governo russo. Porém vem causando reviravoltas a inesperada decisão do Ministério de Recursos Naturais da Rússia de revogar na semana passada a permissão ambiental dada a Sakhalin II, a mais de 4.800 km a leste de Moscou, na remota mas desenvolvida costa marítima.
A retirada da licença, que poderia forçar a suspensão do projeto de 20 milhões de dólares, foi agraciada por ambientalistas que temiam pela vida selvagem da costa remota russa. Um encanamento subaquático precisaria ter sua rota alterada para não colocar em risco a vida de baleias da região. Além disso, canos em terra cruzam mais de mil rios e são derramados nas Ilhas Sakhalin.
“Existe uma ampla evidência do nosso comprometimento em preservar o único e diversificado ecossistema de Sakhalin, incluindo os complexos programas de pesquisa e proteção das baleias cinza ocidentais, gaivotas marinhas e salmão, muito importante para os recursos naturais da região. Sakhalin Energy tem um recorde exemplar de prevenção a derramamento de óleo”, afirmou o ministério de recursos naturais em documento oficial divulgado a mídia.
Para os investidores, uma desculpa esfarrapada
Os investidores, por sua vez, estão muito longe de contentes. Sakhalin II é um gigantesco projeto de petróleo e gás liderado pela Shell, que pode trazer benefícios econômicos para a Rússia na ordem de 50 bilhões de dólares, considerando os preços do petróleo dos anos 30.
Maiores preocupações foram causadas com o anúncio no dia seguinte de que a joint venture Anglo-Russia TKN-BP poderia ter problemas similares com a exploração em um grande campo da Sibéria. Governantes do ocidente, céticos quanto as novas credenciais verdes do país, têm protestado em baixo tom.
Shell, BP, Total e Exxon, entre outros, já investiram US$10 bilhões de dólares desde meados dos anos 90 nos chamados Acordo de Produção Compartilhada (PSAs, sigla em inglês para production sharing agreements) com o governo russo.
O desejo russo de ter um grande controle das suas fontes de petróleo e gás levou o país a utilizar métodos dúbios. No ano passado outros investimentos exteriores em energia foram cancelados pelo governo que mantém guarda cerrada na indústria, responsável pela maior parte dos seus recursos financeiros e que pode ser usada como arma poderosa em políticas externas em um mundo faminto por petróleo.
“O tempo mudou a Rússia. Nós queremos investimentos internacionais, mas não feitos em uma república de bananas”, afirmou o vice-diretor da agência responsável pela revogação da licença da Shell, Rosprirodnadzor, Oleg V. Mitvol, durante uma conferência de Petróleo e Gás iniciada ontem no local.
Uma explicação aceitável para a retirada da licença é colocar pressão para que a Shell renegocie o PSA, com o qual o estado recebe uma parte dos lucros depois dos custos de Sakhalin II serem compensados. Os enormes custos de implementação do projeto para a Shell têm preocupado o governo Russo. Especialmente por se tratar de um acordo firmado em 1993, quando os preços do petróleo estavam baixos e a posição de barganha russa era fraca. O país foi forçado a aceitar o que hoje é visto como termos humilhantes.
Shell sem muito poder de barganha
A Shell ainda é a uma grande interessada, uma vez que dos 4.5 bilhões de barris de petróleo que estima-se existir na região, aproximadamente 2.5 bilhões sejam de propriedade do grupo petroquímico, que agora poderá ser forçado a favorecer a gigante estatal russa Gazprom.
Um acordo de longo termo para trocar 25% da Sakhalin por metade de um dos campos de gás da Gazprom fracassou com o escalada de custos para a Shell. A que pé andam as negociações é difícil saber, mas as licenças serão um peça útil para barganhas. Os dois grandes projetos de Sakhalin (a Exxon está envolvida no outro) são as únicas exceções para o monopólio de exportação de gás da Gazprom.
As tentativas recentes da Rússia para controlar suas riquezas energéticas têm provocado ira diplomática. O Japão espera importar mais da metade do gás de Sakhalin II quando a produção ganhar força em 2008. “Estou preocupado que atrasos maiores possam ter uma influência negativa nas relações Rússia-Japão”, disse o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. Hoje as companhias japonesas Mitsui e Mitsubishi são donas de 45% do projeto. A comissão européia e o governo britânico também expressaram preocupações.
Assim mesmo a Rússia não precisa se preocupar com as companhias de petróleo estrangeiras. O mundo precisa do petróleo e gás russo. E grandes empresas estão desesperadas para investir em grandes projetos que permitam seu acesso a novas reservas.
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil com agências internacionais, 28/09/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=15311&iTipo=8&idioma=1