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2006-09-27
Diminuir o número de acidentes graves nas rodovias do Brasil, preservar o meio ambiente e gerar emprego para deficientes são os objetivos do Projeto Resto Zero, fruto de uma parceria entre duas ONGs paulistas que nas últimas semanas deu importante passo em São Paulo.

Criado em 2005 pelas ONGs Via Viva e Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape), o projeto teve como objetivo inicial reduzir o índice de mortalidade nas estradas brasileiras. “A intenção era fazer com que as barreiras rodoviárias - aquelas proteções que impedem um carro de atravessar para a pista contrária - amparassem os veículos com segurança”, explica o engenheiro Paulo Bina, vice-presidente do Via Viva.

Segundo Bina, o perigo ocorre porque o concreto utilizado nessas barreiras é duro e não absorve o impacto dos acidentes. A nova proposta era criar o Concreto DI, deformável e isolante. Além de segurar a força dos carros, a barreira com esse concreto devolveria os veículos à pista com maior estabilidade.

Para que as barreiras não fossem tão rígidas quanto as proteções convencionais nem tão frágeis quanto a barra metálica, seria necessário substituir a pedra britada, maior componente do concreto, por borracha triturada. A troca pouparia fontes não-renováveis de energia, como granito e gnaisse, minérios presentes em 85% da composição da brita. Segundo a Associação Nacional de Entidades de Produtores para a Construção Civil (Anepac), a produção de brita passou de 58 milhões de metros cúbicos em 1988 para 97 milhões em 2000. A previsão é que, até 2010, o total anual atinja 138 milhões.

Além de tudo, por meio desse projeto, é possível dar um destino a milhões de pneus que, a cada ano, são descartados de maneira incorreta. Segundo a Associação Nacional das Indústrias de Pneumáticos (Anip), a população brasileira não sabe o que fazer com pneus velhos. Só no ano passado, foram destruídos 100 milhões de pneus de maneira ecologicamente correta.

“Nosso objetivo é conscientizar a população a não queimar esses pneus, que contaminam o meio ambiente, não guardá-los em casa nem jogá-los nos rios”, explica Bina. “Para isso, teremos nossos postos de coleta, os Ecopontos, que empregarão cerca de 700 deficientes.” O projeto já ajudou dezenas deles em suas campanhas temporárias, realizadas entre janeiro e maio deste ano, na Baixada Santista. “Os prestadores eram selecionados pelas prefeituras locais e treinados pela Avape”, conta.

A deficiente visual Célia Misael, que mora em Cubatão, orgulha-se de ter trabalhado em Santos. “A experiência foi maravilhosa e me ajudou a melhorar o currículo, pois trabalhei com carteira assinada. Gostaria de ser chamada novamente”, comenta Célia.

A criação de Ecopontos, entretanto, esbarra em problemas financeiros. Há uma esperança: o Zoológico de São Paulo firmou parceria com os institutos para a criação de um posto dentro do parque, no bairro da Água Funda.

Os primeiros pneus arrecadados serão destinados a uma reforma do zôo, para torná-lo mais acessível. “Esperamos que medidas como essas se perpetuem. A idéia não é só proteger o meio ambiente, mas ajudar deficientes com a geração de renda e evitar que outras pessoas se tornem deficientes”, finaliza Bina.
(Por Camila Vasconcellos, O Estado de S. Paulo, 26/09/2006)
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