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2006-09-27
A economia da madeira em Mato Grosso e na Amazônia tem um passado recente. Na região de Sinop, 500 quilômetros ao norte de Cuiabá, são 33 anos. Não se pode dizer que foi uma história pacífica. Parte dos primeiros exploradores tinham experiência madeireira no Sul do país, mas desconheciam a Amazônia. Explorar madeira foi uma aventura de extrair, aproveitar da maneira possível e lidar com legislações complicadas. Aos poucos esses ingredientes juntaram-se na desordem que resultou na "Operação Curupira", da Polícia Federal, em junho de 2005.

Acabava ali a primeira fase pioneira da madeira na Amazônia mato-grossense. Não se pode dizer que o setor estava em caos. Algumas áreas avançaram muito em técnicas e em tecnologias industriais, alcançando os exigentes mercados europeus. A questão ficou nos conflitos de legislação e na fiscalização do Ibama, que alimentava uma relação promíscua com o setor madeireiro, em benefício do corporativismo e das vantagens econômicas.

Negócio do Futuro
Se até agora a madeira gerou riquezas e polêmicas, o seu futuro será melhor. O mundo é comprador de madeira, e está disposto a pagar mais pela madeira certificada, diz o especialista em comércio exterior Gavur Kirst. Paulo Fiúza, industrial em Sinop, diz que o negócio é eterno. Tentou-se substituir a madeira pelo plástico, mas não vingou. "Madeira é madeira", diz ele.

O presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte do Estado - Sindusmad, com sede em Sinop, Jaldes Langer, diz que "o cenário é muito promissor. Mato Grosso tem as cores e as densidades de madeiras que o mundo quer e só existem na Amazônia". A logística é o pior aliado do setor, complicada pela falta de frete de retorno dos portos e mercados do Sul/Sudeste.

O Arranjo Produtivo Local da madeira em Sinop, Alta Floresta, Colíder e Carlinda está produzindo bons avanços na industrialização e nos diagnósticos da madeira. Se o negócio é bom para o futuro, o presente está cheio de dúvidas e de contradições. A legislação é o pior dos conflitos.

Legislação e Fiscalização
Até 2005 a relação madeira-legislação era conflituosa. A partir da "Operação Curupira" a fiscalização e os licenciamos passaram para a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, mas os conflitos, embora menores, não acabaram. Hoje, a principal questão é a falta de estrutura da SEMA para atender à demanda. "Em relação ao mercado, quem está trabalhando certo está não tem problemas", diz Jaldes Langer, do Sindusmad.

Porém, especialistas da Federação das Indústrias em Mato Grosso, dizem que está faltando planejamento estratégico ao setor e que o manejo florestal é inevitável para manter a atividade perene. "O negócio é indiscutível. É bom e a madeira vai ganhar preço no mercado internacional". Waldemar Antonioli, um dos pioneiros e parceiro do projeto de manejo florestal Jamanchin, com o Senai-MT e banco internacional, está animado com a fase pós-Curupira. O mercado externo quer madeira beneficiada e produzida. "Está ótimo", diz. Madeiras vendidas a U$ 400 por m3, hoje chegam a 800". O problema geral, contudo, é a pouca oferta por falta de legalização. A SEMA não consegue aprovar os projetos de manejo florestal, indispensáveis para certificar a madeira. Sem estoques legais, a demanda ficou maior do que a oferta num mundo comprador.

Quem conseguir passar pelo gargalo atual vai ganhar muito dinheiro, admitem os empresários. "O gargalo, dizem, é passar pela fase atual, entrar no mercado sustentado e na fase ambiental". Aliás, a fase ambiental será a maior encruzilhada do setor. O mundo chega a detalhes. Compradores da Noruega visitaram projetos de manejo em Sinop e chegaram ao detalhe de fotografar e cadastrar as árvores que desejavam comprar. Pararam de comprar depois que compraram uma grande floresta na Rússia.

"Não há risco da madeira acabar, dizem os especialistas. Só se ficarmos no passado extrativista irresponsável. Quando o pó de serra for aproveitado, teremos chegado ao ideal".

Mas existe uma dúvida: "O parafuso está apertando em Mato Grosso, mas e nos demais estados amazônicos?, perguntam madeireiros, industriais e especialistas. Se for diferente, como sermos competitivos em regime de desigualdade?. Ficou uma impressão de total ilegalidade que não é real. É dessa visão que vêm as pressões ambientais".

Contudo, o setor madeireiro mato-grossense, embora esteja em efervescência e disposto a entrar no mercado global com técnicas e tecnologia, ainda é muito desorganizado, admitem todos. Jaldes Langer acrescenta que as dificuldades na lida com legalidade são muito grandes, porque o setor público não acompanha a agilidade do setor madeireiro nesta nova fase.

Augusto Francisco dos Passos, presidente do Sindicato dos Madeireiros do Extremo Norte de Mato Grosso, de Alta Floresta, reclama que o setor mudou depois da "Operação Curupira", mas "o volume de madeira legal não atende o parque industrial. Acaba aparecendo madeira ilegal, apesar do mercado estar muito aquecido".

Questão ambiental
Essa questão depende de dois gargalos: da aprovação dos projetos de manejo sustentado para dar legalidade e certificação à madeira. Sem isso o setor não existe. E o reflorestamento para dar perenidade à madeira, além de ser um novo negócio na cadeia da madeira. Mas no meio do caminho um gargalo invisível é o pior de todos: a burocracia. O Secretário do Meio Ambiente, Luis Henrique Daldegan, diz que o parque industrial é maior do que a madeira legal existente no estado. Faltam técnicos e a redução da burocracia para agilizar o setor.

Luiz César Lino de Oliveira, presidente da Associação de Reflorestamento de Mato Grosso, admite que a atividade é nova no estado e que a nova grande força será a do eucalipto, seguida da teca, uma variedade muito nobre, que já tem experiências com mais de 30 anos na região de Cáceres. "O futuro do reflorestamento será grandioso",diz. Hoje a teca espalhou-se pela região do médio-norte, do norte e do noroeste do estado, somando perto de 100 mil hectares. O eucalipto está entrando nas áreas marginais de onde a soja está saindo, nas fraldas arenosas e menos férteis. 10% da área de soja pode ser reflorestada, admite. São 150 mil hectares só no sul do estado.

Para Luiz César, a abundância de madeira e de reflorestamentos, vai trazer para Mato Grosso cada vez mais indústrias hoje instaladas no Sul do Brasil. Jaldes Langer é objetivo: "a legislação é imperativa. Não adianta encher o manejo florestal de burocracia, porque é mais fácil derrubar a mata, formar pastagens e lavoura, ao contrário do ideal que seria manter a floresta de pé. Extrair madeira é muito menos agressivo". A madeira ecológica tem um grande mercado, pelo aproveitamento dos rejeitos, representando menor pressão sobre a floresta. "O futuro, acentua, é renovável sempre. Mato Grosso está sendo muito reprimido, mas vai dar respostas extraordinária. O mundo dos negócios é profundamente seletivo. O da madeira, principalmente", conclui.

Nos 33 anos de relações econômicas e legais conflituosas ficou a certeza de que o futuro será bom, mas depende da organização do setor, de planejamento estratégico, da aprovação crescente do manejo sustentado e do reflorestamento.

Contudo, é visível que o meio ambiente será um negócio dentro da madeira muito mais abrangente do que a própria madeira.
(Por Onofre Ribeiro, Revista RDM Online, 26/09/2006)
http://www.rdmonline.com.br/index.php?doc=exibe&id=1343&edicao=152

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