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2006-09-27
Nas últimas três décadas, a Terra esquentou mais do que em toda a era industrial. O aumento foi de 0,2ºC por década, uma aceleração sem precedentes na história geológica recente do planeta, que praticamente joga por terra a esperança de estabilização do clima.

O alerta é de um grupo de cientistas dos EUA, liderados pelo homem que colocou o efeito estufa no radar dos governos mundiais: James Hansen, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa (agência espacial americana).

Em estudo publicado ontem (26/09) na revista "PNAS", da Academia Nacional de Ciências dos EUA (www.pnas.org), Hansen e seus colaboradores apresentam dados refinados de um modelo climático que vem sendo desenvolvido por eles desde os anos 1980, cruzado com medições feitas por satélites, navios e estações meteorológicas.

O resultado é assustador: só nos últimos 30 anos, o planeta esquentou 0,6ºC, o que eleva para 0,8ºC o total de aquecimento anormal observado no século 20. No começo desta década, o número que os cientistas usavam para quantificar o aquecimento global do século 20 era algo entre 0,6ºC e 0,7ºC.

Isso faz com que a temperatura média atual seja a maior dos últimos 12 mil anos. Um aquecimento de mais 1C seria o mais alto do último milhão de anos, pelo menos. "Se o aquecimento alcançar mais 2ºC ou 3ºC, provavelmente veremos mudanças que tornarão a Terra um planeta diferente do que conhecemos hoje. A última vez que ela esteve tão quente foi no Plioceno, há 3 milhões de anos, quando o nível do mar era 25 metros mais alto que hoje", disse Hansen.

A culpa pelo aquecimento é de um agravamento do efeito estufa, nome que se dá à retenção do calor da Terra na atmosfera por uma capa de gases -como metano, vapor dágua e dióxido de carbono. Este último é produzido sobretudo por seres humanos, na queima de combustíveis fósseis (petróleo e derivados e carvão mineral) que movimenta a economia do planeta, e no desmatamento das florestas tropicais.

James Hansen foi um dos primeiros cientistas a alertar para a chamada "interferência perigosa" dos humanos no clima. Segundo essa hipótese, haveria um ponto a partir do qual o aumento de temperatura causaria uma série de efeitos, como o derretimento de geleiras e um grande aumento no nível do mar capaz de transformar o litoral do planeta.

Suas previsões iniciais, resumidas em 1988 num célebre depoimento no Congresso dos EUA, foram ridicularizadas. Até romancista americano Michael Crichton, autor de "Parque dos Dinossauros", tirou sua casquinha. No best-seller "Estado de Medo", de 2004, ele diz que as previsões de Hansen estavam "300% erradas". Um dos cenários de seu modelo, no entanto, bate direitinho com as temperaturas observadas.

Mega-El-Niños
O aquecimento foi maior no extremo Norte, onde o gelo derretido expõe água, terra e rochas, mais escuras, diminuindo o albedo (ou "branquidão", que reflete a radiação solar de volta ao espaço) e permitindo ao planeta absorver ainda mais calor. A temperatura da água muda mais devagar, mas os cientistas notam que o aquecimento nos oceanos Índico e Pacífico foi marcado. Hansen atribui a isso uma tendência a El Niños mais intensos, como o de 1997. "Estamos chegando perto de níveis perigosos de poluição humana", disse o cientista.
( Folha Online, 26/09/2006)

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