Coréia do Norte desafia Estados Unidos com combustível nuclear
2006-09-27
A Coréia do Norte planeja adiantar a produção de combustíveis para armas nucleares a não ser que os Estados Unidos desista de medidas financeiras repressivas e volte às negociações acerca do programa nuclear norte-coreano, de acordo com um acadêmico americano vinculado a líderes norte-coreanos.
O acadêmico, Selig S. Harrison, um especialista em Coréia que vive em Washington, afirmou que oficiais do mais alto escalão da Coréia com os quais ele se encontrou na semana passada disseram a ele que a Coréia do Norte tinha a intenção de descarregar combustível em seu reator em Yongbyong e extrair plutônio para bombas nucleares antes do que eles esperavam.
“É um desenvolvimento significativo, pois enfatiza que a Coréia do Norte está aumentando sua capacidade de desenvolver armas”, afirmou Harrison em Pequim após voltar de Pyongyang, a capital da Coréia do Norte.
Ele mencionou Kim Kye-gwan, o vice-ministro de Relações Exteriores da Coréia do Norte, que está fiscalizando a participação do país nas negociações entre seis países, afirmando que ele disse que não descarregaria o combustível neste trimestre.
Harrison, que cultiva relações com oficiais reclusos que comandam a Coréia do Norte, afirmou que ele não interpreta a intenção da afirmação de expedir a produção de combustível nuclear como uma ameaça e que os líderes políticos e militares que ele conheceu pareciam ávidos por retomar as negociações com o resto do mundo.
Em encontros com diversos políticos e personalidades militares, segundo ele, eles expressaram o desejo de realizar um acordo preliminar internacional para desmanchar o programa nuclear norte-coreano. A Coréia do Norte chegou a um acordo com os Estados Unidos e com quatro outras nações há um ano, mas se recusou a discutir como faria isso.
Logos após o acordo, o governo Bush impôs medidas financeiras repressivas à Coréia do Norte. O governo afirmou que as medidas foram necessárias para barrar a falsificação norte-coreana de dólares americanos e outras atividades do mercado negro.
Harrison afirmou que os oficiais norte-coreanos haviam repetido exigências públicas de que os Estados Unidos terminem com as medidas financeiras repressivas antes da retomada das negociações nucleares. Porém, ele afirmou que eles também estavam procurando modos para os dois países retomarem as conversações mais cedo, como um modo de construir a confiança.
Ele argumentou que as medidas, que segundo ele eram vistas pelos norte-coreanos como uma tentativa de isolá-los ainda mais e de derrubar o governo de Kim Jong-il, atrapalhavam a tentativa de livrar a Península Coreana de armas nucleares. “Os EUA terão de encontrar um modo de lidar com transações ilícitas sem destruir o relacionamento norte-coreano com o mundo exterior”, afirmou Harrison. “A política de medidas repressivas é completamente improdutiva”.
O governo americano defendeu as medidas repressivas como uma ação essencial de imposição da lei. Oficiais do governo americano afirmam que eles não possuem relações com as conversações nucleares e que o único obstáculo significativo para retomar tais conversações seria a relutância da Coréia do Norte em desistir das armas nucleares.
(Por Joseph Kahn, The New York Times, 25/09/2006)
http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/nytimes/2534001-2534500/2534174/2534174_1.xml