Chávez investe US$ 13 bi em base de gás na Venezuela: a instalação será ponto de partida do Gasoduto do Sul
2006-09-26
Um enorme complexo industrial de 6.300 hectares terrestres e 11 mil hectares marinhos no litoral oriental venezuelano: essa é a aposta do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para que seu país se transforme em uma potência energética mundial. A península de Paria, terra de praias virgens e vilarejos esquecidos do leste venezuelano, abrigará o Complexo Industrial Grande Marechal de Ayacucho (CIGMA), base de entrada, processamento e distribuição do gás procedente da região nordeste do país, da Plataforma Deltana, além da ilha vizinha de Trinidad.
A instalação, cuja pedra fundamental foi colocada esta semana pelo presidente Chávez em um ato realizado à beira-mar, será também o ponto de partida do Gasoduto do Sul, que através de 12.515 quilômetros quer levar gás a Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Esse gasoduto permitirá, segundo Chávez, consolidar a integração energética "entre os povos irmãos" da América do Sul, pois a Venezuela, nas palavras de seu presidente, tem gás para todas essas nações, e quer "brindá-las com este recurso, em nome do "equilíbrio do mundo multipolar".
A Venezuela tem a oitava maior reserva de gás do mundo e a maior da América do Sul, com 150 trilhões de pés cúbicos de gás, embora novas explorações tenham demonstrado que as jazidas podem ser muito mais amplas. Segundo estimativas, o país pode possuir outros 196 trilhões de pés cúbicos de gás. Uma vez confirmada a existência desses recursos, o país se transformaria no terceiro do mundo em reservas, depois de Rússia e Irã.
O projeto de prospecção e exploração dos recursos de gás natural do litoral venezuelano faz parte do plano Delta Caribe, desenvolvido pela estatal Petróleos de Venezuela SA (PDVSA), por meio de sua filial, a Corporação Venezuelana do Petróleo. A primeira fase do complexo Grande Marechal de Ayacucho, cerca de 600 quilômetros ao leste de Caracas, deve receber um investimento de US$ 13,2 bilhões, e começará a funcionar em 2008, alcançando sua capacidade plena em 2012, segundo fontes da PDVSA.
A estatal anunciou em agosto que empresas de 12 países mostraram interesse em licenças para explorar jazidas de gás não incluídas no Projeto Delta-Caribe, na costa oriental venezuelana. Entre essas empresas estão a Petrobras, a Chevron, dos Estados Unidos, Repsol YPF, da Espanha, e Statoil, da Noruega. O ministro venezuelano de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, disse em agosto que US$ 16 bilhões serão investidos no Projeto Delta-Caribe até 2012, com um potencial de produção de 11,5 bilhões de pés cúbicos diários de gás.
Esse projeto também atenderá ao "gasoduto transcaribenho", em construção que comunica a região noroeste venezuelana com a Colômbia e depois com o Panamá, onde haverá um terminal para fornecer o combustível ao mercado asiático.
Nos últimos seis anos, a Venezuela já entregou 17 licenças de exploração de gás a empresas internacionais como Repsol YPF, Petrobras, Chevron-Texaco, Gazprom e Statoil. Esta última companhia já está presente, em associação com a PDVSA, na Plataforma Deltana, ao sul do golfo de Paria, onde será construído a partir do último trimestre de 2007 um gasoduto de 500 quilômetros que unirá a plataforma ao complexo Grande Marechal de Ayacucho. Segundo a empresa estatal, os primeiros 300 milhões de pés cúbicos de gás procedentes da zona estarão "em terra" em 2009.
O enorme complexo industrial, situado em frente ao mar, deve beneficiar todo o estado de Sucre, um dos mais pobres da Venezuela, onde se encontra a península de Paria. O governo já aprovou recursos para a reestruturação da decadente Güiria, cidade de 30 mil habitantes, vizinha do complexo, e planeja incentivos para o desenvolvimento agrícola e turístico da região. Entre outras obras a cargo da PDVSA, está a construção de uma estrada entre Güiria e Macuro, isolado vilarejo de pescadores que reivindica ser o lugar em que Cristóvão Colombo pisou terra firme sul-americana em agosto de 1498, e deu a ela o nome de "Terra da Graça".
(Gazeta Mercantil, com informações da EFE, 26/09/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=9%2c0%2c1%2c222537%2cYTRE