Passo Fundo ganha novo aterro de resíduos
2006-09-26
Com as novas tecnologias e criação de novos produtos, a vida da população mundial ficou
mais
fácil devido ao uso de materiais descartáveis. Os alimentos vêm em embalagens descartáveis e
há os práticos pratos, talheres, copos ou garrafas de plástico. Apesar das facilidades no
uso
desses materiais no dia-a-dia, eles causam grandes problemas ao ambiente e às futuras
gerações. Os materiais descartáveis requerem mais recursos naturais para sua fabricação e o
depósito indevido após o uso no meio ambiente causa impacto por 500 anos. Se o lixo puder
ser
reaproveitado, é possível resolver três problemas de desenvolvimento sustentável: justiça
social, crescimento econômico e ambiente mais saudável.
A grande produção de lixo, ainda mais aumentada pelo uso de materiais descartáveis, traz
grandes problemas às cidades brasileiras. Passo Fundo já pode ser incluída nesse rol. Cada
habitante produz diariamente cerca de um quilo de lixo e a usina recebe diariamente 110
toneladas de resíduos.
A usina de lixo situada na localidade de São João tem três aterros. Dois deles já são
utilizados há anos pelo município e não foram construídos conforme as normas impostas pela
Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler) para preservar o meio
ambiente. Por essa razão não são considerados aterros sanitários, mas sim aterros
controlados.
A terceira vala, inaugurada no dia 22, é a primeira no município a respeitar essas normas e
receberá lixo orgânico e materiais sem valor agregado. Ela foi dimensionada para uma vida
útil
de dois anos e tem cerca de oito metros de profundidade e 80m x 80m. No entanto, conforme a
engenheira da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, Gislaine Mello Alves, "a Fepam
determinou que a utilização dessa vala seja de um ano e quatro meses, devido à contaminação
do
local gerada pelas outras células construídas sem o cumprimento das normas ambientais".
A nova vala tem uma geomenbrana, espécie de lona impermeabilizante que impede a infiltração
do
chorume no lençol freático. O chorume - resultado da decomposição da matéria orgânica e 80
vezes mais poluente que esgoto - seguirá através de uma canaleta até as três lagoas de
decantação, responsáveis por entregar o líquido, inicialmente preto e viscoso, sem
contaminação aos rios. As lagoas impermeabilizadas trabalham de forma natural com processo
anaeróbio e facultativo.
O novo aterro passará também a fazer a queima do gás metano - resultante da decomposição da
matéria orgânica e que contribui para o aquecimento global, porque destrói a camada de
ozônio
- evitando impacto ambiental. Anualmente, os lixões produzem toneladas de gás metano,
conhecido como biogás, que pode ser transformado em energia elétrica. Por enquanto não há
projetos para isso na cidade, porque o custo ainda é muito elevado. A queima é realizada
através da instalação de um tubo com buracos de uma extremidade a outra da vala,
possibilitando a condução direcionada do gás e evitando que se espalhe, saindo por vários
pontos do aterro. Com a grande produção de lixo praticamente a queima acontecerá noite e
dia.
De acordo com o diretor de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente,
Paulo
Pinheiro, "a tentativa é padronizar o depósito de lixo, impedindo, como acontecia nas outras
duas células, a infiltração do chorume no lençol freático, a degradação do ar pelo metano e
assim enquadrá-lo às normas da Fepam". Do total de lixo que chega diariamente à usina,
apenas
3% podem ser separados e enviados para a reciclagem. "Isso acontece por que a população
ainda
não está consciente de que o lixo será um problema no futuro, pois não teremos local onde
depositá-lo. Por isso, mesmo que a coleta seletiva ainda não esteja acontecendo no bairro, é
importante realizar uma separação prévia e colocá-lo em sacolas separadas, facilitando o
trabalho de triagem na usina," revela Pinheiro. Atualmente a coleta seletiva está
implementada
em 15 bairros da cidade. Até março de 2007 será ampliada para mais 20 bairros, incluindo a
área central e bairros próximos.
Recuperação das áreas
Assim como os outros dois aterros, as antigas lagoas de decantação também foram construídas
sem respeitar a legislação ambiental. Desse modo funcionavam apenas como uma barreira de
contenção.
Após o início da utilização da nova vala o aterro que está sendo utilizado passará por um
processo de recuperação, recebendo uma cobertura de vegetação, taludes, drenagem de água
pluvial, do chorume e dos gases. Segundo Gislaine Alves, "esta será uma recuperação lenta e
não ficará como deveria por não ter sido dimensionada adequadamente. Mas vamos minimizar os
impactos que ela gera ao meio ambiente. Mesmo assim ainda por muitos anos o aterro
continuará
produzindo chorume e gás metano".
(O Nacional, 25/09/2006)
http://www.onacional.com.br/