Ambientalistas fazem manifestação contra monoculturas no Brique da Redenção
2006-09-25
Perda da biodiversidade e ameaça à manutenção da agropecuária gaúcha. Esses são alguns dos
custos ambientais e sociais provocados pelas monoculturas de eucaliptos, pinus e acácias, que
ameaçam a preservação do Pampa e colocam em risco comunidades tradicionais, que serão expulsas
do campo, indo para as periferias das cidades.
“O mau negócio para o Estado com as plantações de árvores para celulose” é questionado por
integrantes das ONGs Agapan, Núcleo Amigos da Terra Brasil - NAT, União Pela Vida, Igré –
Amigos da Água e pela Defesa BioGaúcha.
No domingo (24/09), no Brique da Redenção, junto ao Parque Farroupilha, em Porto Alegre, os
ambientalistas coletaram assinaturas em dois abaixo-assinados contra as monoculturas. A
reunião de avaliação da manifestação deve ser realizada na próxima quinta-feira, 28.
Para Maria Elisa Silva, empresária e militante da União Pela Vida, o que mais surpreendeu foi
o interesse das pessoas em assinar os abaixo-assinados. “Bastava ler a faixa contra as
monoculturas, que muita gente se dirigia às mesas para assinar”, comemora Maria Elisa, ao
calcular em quase mil as assinaturas colhidas na tarde de domingo pelo movimento.
Rica paisagem ameaçada
A preocupação do meio científico a respeito dos custos ambientais que decorrem das
monoculturas foi expressa, durante a manifestação, pelo biólogo e Professor Ludwig Buckup,
professor do curso de Pós-Graduação em Biologia Animal da Ufrgs. Ele defende a preservação do
Pampa, pela riqueza em espécies. “São mais de três mil espécies, sendo muitas endêmicas, só
encontradas nessa região”.
Para Buckup, as plantações de eucaliptos simplificam a paisagem, promovendo a perda de seu
valor. Além disso, anulam os usos tradicionais do Pampa, prejudicando a agropecuária. “Temos
no RS os melhores pastos do Brasil”, diz o pesquisador, ao manifestar sua preocupação também
com as comunidades tradicionais, “que serão prejudicadas. O que os produtores vão fazer
durante os sete a 12 anos necessários para colher a produção?”, indaga Buckup.
Além do tempo de crescimento da árvore, Buckup considera sua derrubada, “que carrega os sais e
nutrientes do solo”. Para ele, o pior impacto no plantio de monoculturas está relacionado à
água, pela elevada taxa de evapotranspiração das árvores. “Estudos mostram que um pé de
eucalipto é capaz de evaporar, por ano, 30 mil litros de água”, destaca, ao analisar que
“cálculos do plantio de quase um milhão de hectares de campos transformados em plantação de
espécies exóticas indicam que a quantidade a evaporar das monoculturas no RS é maior do que a
média de chuvas que caem aqui no Estado por ano”.
Buckup questiona que, “sem ter como manter as plantações, as indústrias de celulose para
exportação vão retirar a água necessária dos rios, dos arroios, dos lagos e do lençol
freático”, lamenta, ao analisar a ameaça de contaminação do Aqüífero Guarani, a maior reserva
de água sob o Estado, provocando a seca de arroios e vertentes, comprometendo a irrigação de
cultivos e plantações.
Ao invés de transformar o RS em um pólo de celulose e madeira, os ambientalistas defendem a
aplicação de recursos no fomento da agroindústria, na promoção do turismo rural, no
desenvolvimento da pesca e no incentivo à fruticultura ecológica. O apoio à pecuária, com
assistência técnica financiamentos, é defendido, porque sustenta famílias e preserva os
campos, com menores impactos sócio-ambientais.
(Por Adriane Bertoglio Rodrigues, Ecoagência de Notícias, 25/09/2006)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1854&Itemid=2