Amapá registra 27 novas espécies de animais e plantas após dois anos de pesquisas de campo
2006-09-25
O Amapá abriga uma fauna e flora mais rica do que a que se conhecia até hoje, como revelaram os resultados de onze expedições científicas realizadas no estado ao longo de dois anos por pesquisadores da organização não-governamental Conservação Internacional (CI).
Foram registradas 1.700 espécies nas unidades de conservação Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, Floresta Nacional do Amapá e Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru. Mais de cem nunca haviam sido vistas no Amapá, uma foi considerada redescoberta e pelo menos 27 delas não eram conhecidas pela ciência.
Os pesquisadores são unânimes ao descrever a principal característica da região: alta biodiversidade. No grupo dos crustáceos, foram três novas espécies descobertas e cinco inéditas no estado. Os répteis e anfíbios ficaram com oito espécies desconhecidas, três inéditas no Brasil e mais de 50 no Estado. Peixes foram os campeões: dez novas, uma original para o Brasil e trinta para o Amapá.
“A falta de estudos sobre essas áreas é o principal motivo pelo qual tantas espécies eram desconhecidas. Os últimos trabalhos eram de mais de vinte anos atrás”, revela a bióloga Ana Carolina Martins, responsável pela identificação de 46 novas espécies de morcegos para o estado.
Caça e pesca
A conservação dessas unidades preocupa a bióloga Cecile de Souza Gama, especialista em peixes. “Encontramos muitos indícios de pesca e caça. Levando em conta que existem espécies novas circulando por ali, isso deveria ser evitado”. Mesmo assim, Cecile não teve do que reclamar. “Busquei identificar espécies de peixes pequenos, geralmente desconhecidos até por quem vive lá. Voltei com mais de 300 para serem analisadas”, conta.
A bióloga Inácia Maria Vieira, especialista em crustáceos, também obteve bons resultados com seu grupo. “Caranguejos de regiões mais elevadas, como as pesquisadas, são geralmente pouco estudados”.
Outra boa notícia ficou por conta da redescoberta do lagarto Amapasaurus tetradactylus , que há 36 anos não era visto na região. “Essa espécie até então era conhecida por apenas dois exemplares e por isso tinha a sua validade questionada”, afirma o biólogo Enrico Bernard, Gerente do Programa Amazônia da CI e coordenador do projeto. “Ela também parece ser endêmica de uma área específica do Amapá e registrá-la novamente nos permite aprofundar os estudos sobre a sua distribuição e entender sua relação com outras espécies e os processos evolutivos na Amazônia”.
Espécies raras e endêmicas
O trabalho auxiliará o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na criação dos planos de manejo dessas três unidades. “Várias dessas espécies são raras, várias são endêmicas e algumas estão nas listas de espécies ameaçadas”, conta Bernard.
“As informações biológicas auxiliam no processo de zoneamento da unidade, indicando quais são as áreas de maior ou menor diversidade, quais contêm espécies sensíveis ou ameaçadas e quais apresentam potencial para visitação com fins turísticos, por exemplo”, explica. “As ocorrências estão sendo publicadas em periódicos científicos, as espécies novas estão sendo descritas ou enviadas a especialistas para descrição”.
(Por Juliana Tinoco, Ciência Hoje Online, 18/09/2006)
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