Biocombustível é novo foco de gigante italiana
2006-09-22
Com grande experiência em grãos, ramo em que atua há mais de 30 anos, Antonio Iafelice,
presidente do grupo Agrenco, está entrando em alto estilo na produção de biodiesel. Em
conjunto com cerca de 20 mil produtores de soja, a empresa vai investir US$ 100 milhões em
três projetos que deverão produzir 380 mil toneladas anuais de biodiesel, a partir de 2008.
Parte dos recursos será própria e outra com financiamento internacional.
O maior dos projetos, de 180 mil toneladas, será com a cooperativa de produtores Copervale em
Rondonópolis (MT). Integrará a produção do combustível com a dos derivados do grão, como
farelo e outros subprodutos, e a geração de energia elétrica pela caldeira de vapor da
unidade. A energia que sobrar será fornecida ao Sistema Integrado Nacional. Outro frente de
atuação será em conjunto com a Coagri, esta com forte presença na região de Dourados e
Maracaju (MS), para produzir mais 100 mil toneladas por ano. Um terceiro investimento, também
de 100 mil toneladas anuais, será no Paraná mais uma vez em parceria com uma cooperativa -
cujo nome Iafelice diz não estar ainda autorizado a revelar.
Nos projetos do Paraná e de Dourados, além soja, o biodiesel será produzido também a partir de
resíduos de animais, sebo, por exemplo, já que nas duas regiões é grande a produção de
bovinos, suínos e aves.
Iafelice enumera algumas das inovações desse empreendimento triplo. Nos três casos, os
produtores entregarão a matéria-prima e ficarão com parte correspondente de biocombustível
para consumo próprio. No caso, o chamado B100, ou seja, o biodiesel puro sem ser misturado ao
diesel de origem fóssil, como é o B2, em que 2% é adicionado diesel de petróleo.
O B100 será exportado para o mercado europeu, a cujas normas ambientais e técnicas se
enquadram perfeitamente, já que não é poluente e também não sofre alterações diante das
baixíssimas temperaturas do continente. Iafelice calcula que no total, os produtores ficarão
com cerca de 25%. Outros 20% serão usados pelas frotas do grupo Agrenco, enquanto o restante,
ou seja mais de 50%, será exportado.
As três unidades entrarão em operação ainda em 2007, mas só atingirão a produção plena em
2008. Por isso, ao falar sobre a projeção de faturamento do grupo para 2007, de U$S 1,5
bilhão, Iafelice não leva em conta essa produção inicial. Quando estiverem em plena atividade,
as três usinas deverão gerar receita de U$S 200 milhões por ano, levando em conta bases de
referência bem modestas, como a tonelada do diesel cotada a US$ 600 no mercado internacional.
Para 2006, a projeção de faturamento é de US$ 1,3 bilhão.
O presidente da Agrenco lembra que uma das grandes inovações dos projetos é a tecnologia que
permite que tudo pode ser processado pela mesma usina para resultar no biodiesel. Ou seja, ela
trabalha com todo tipo de gorduras, borras, a própria soja e outros produtos. Entre estes, a
massa verde do próprio plantio de soja ou de outras culturas usadas em rotação. É o que ele
classifica do "biodiesel multióleos".
Iafelice considera muito promissoras as perspectivas de mercado para o biocombustível ao
lembrar que a produção atual é mínima se comparada com a demanda mundial. Somente a União
Européia projeta uma produção de 30 milhões de toneladas de biodiesel pelos países europeus em
2009.
E, de olho no potencial do mercado europeu, a Agrenco planeja uma fábrica de biodiesel na
Polônia para atuar nos países do Leste Europeu. O primeiro passo foi dado com a compra, em
sociedade com a norueguesa Denofa, de 60% do capital da Nagrol, que produz óleo de colza
naquele país e tem penetração na região do Báltico. A fábrica, que continuará sob o comando
dos antigos proprietários, será ampliada para produzir biodiesel.
Por Gabriel de Salles, Gazeta Mercantil, 22/09/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=7%2c0%2c1%2c217502%2cYTRE