Nesta sexta-feira (22/09), o Ambiente JÁ traz uma entrevista exclusiva com o candidato do PDT ao governo do Estado do Rio Grande do Sul, Alceu Collares.
Collares foi advogado, professor, vereador e prefeito de Porto Alegre. Governador do Estado entre 1991 e 1994, hoje exerce o quinto mandato de deputado federal. Em 2006 assumiu a presidência da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
Ambiente JÁ: O atual governo pretende unificar os órgãos ambientais do Estado. O que o senhor pensa sobre essa proposta?
Collares: Nossos técnicos farão um estudo sobre o assunto.
Ambiente JÁ: O maior projeto ambiental da história do Estado, o Pró-Guaíba, se arrasta por anos. Qual a sua proposta para finalmente concluí-lo? O que o candidato sabe a respeito do projeto?
Collares: O Pró-Guaíba, programa para promover o desenvolvimento socioambiental da região hidrográfica do Guaíba, deve continuar e precisa de investimentos para isso. O projeto foi criado em 1989 para durar 20 anos. Começou a ser executado no governo do PDT, mas ainda não cumpriu integralmente seu papel na recuperação ambiental, mesmo atuando nas causas e conseqüências da poluição. O Módulo I, já concluído, teve repercussão positiva em relação à educação ambiental, tratamento de esgotos, combate à erosão, controle mais rigoroso da poluição, coleta de lixo, mas sabemos que é necessário fazer muito mais. Os técnicos do PDT responsáveis por propostas relativas à preservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável estão fazendo estudos para viabilizar sua continuidade.
Ambiente JÁ: Conforme o IBGE, mais de 70% do Rio Grande do Sul é desprovido de saneamento básico. Sabendo que, ao deixar de investir nessa área, o Estado acaba gastando cinco vezes mais no tratamento de doenças, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, como resolver a questão?
Collares: É preciso fazer um forte investimento em saneamento básico , aumentar coleta e tratamento de esgotos sanitários. Hoje, só 30% dos esgotos estão canalizados e, desse total, apenas 20 % são tratados.
Nossa meta é implantar métodos de tratamento simples e eficientes, com pré-sedimentação do esgoto seguido de pós-tratamento em banhados construídos, leito de juncos, lagoas ou filtros biológicos. A coleta e o tratamento devem ser descentralizados para reduzir gastos. Os sistemas centralizados são caros. Seu custo corresponde a 80% dos investimentos e a 65% dos custos operacionais.
Ambiente JÁ: O Rio Grande do Sul, em especial a região do Pampa, está recebendo investimentos do setor da silvicultura que podem alcançar a cifra de US$ 3 bilhões. No entanto, a chegada das empresas do setor é mal-vista no meio ambientalista. O que o senhor pensa a respeito?
Collares: O Rio Grande do Sul é hoje um importante produtor de madeira, com o pinus (nas regiões do Planalto ,São Francisco e Cambará do Sul), a acácia-negra (em Montenegro, Bom Retiro, Triunfo e Taquari e municípios vizinhos), o eucalipto (Depressão Central e Serra do Sudeste). Produzimos madeira para a indústria madeireira, de laminados, de tanino, de celulose e lenha.
Quanto ao eucalipto na Metade Sul, é necessário conciliar os interesses econômicos com a proteção ambiental. A alegação de que as florestas de eucalipto se constituiriam em "desertos verdes" é exagerada. O eucalipto não é uma espécie danosa em si. O problema aparece quando é utilizada como monocultura.
A silvicultura no sul do Estado não pode ser dispensada por sua importância para o desenvolvimento econômico da região. O que se deve fazer é um zoneamento adequado para as plantações, conservando as áreas protegidas, garantindo a manutenção das paisagens naturais do Pampa. Para isso, é necessário exigir o licenciamento para implantação das florestas exóticas dado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
Ambiente JÁ: Qual será a política de seu governo em relação à implantação de novas usinas termelétricas e hidrelétricas?
Collares: O atual sistema de transmissão suporta o atendimento em condições normais até 2007. Há necessidade de fazer investimentos em hidrelétricas e termelétricas, bem como incentivar os autoprodutores.
Temos que aproveitar a abundante reserva carbonífera e a presença de rios adequados. Como os investimentos são altos, devem ser concentrados em pequenas e microcentrais hidrelétricas, sem descuidar de usinas maiores. Em relação às termelétricas a carvão, é preciso muito cuidado para evitar a poluição atmosférica.
Ambiente JÁ: Há críticas de que os processos de licenciamento ambiental vêm sendo apressados para agilizar empreendimentos, sob o argumento da geração de emprego e renda. O senhor considera a questão ambiental como um entrave ao desenvolvimento?
Collares: O PDT tem como política promover o desenvolvimento sustentável. É preciso incentivar o crescimento econômico para gerar mais empregos e, ao mesmo tempo, garantir um ambiente preservado e saudável para as futuras gerações.
Ambiente JÁ: O senhor pretende criar novas Unidades de Conservação? Se sim, quais?
Collares: Este assunto está em estudo.
Ambiente JÁ: O que o candidato pensa a respeito do carvão mineral na matriz energética do Estado?
Collares: Deve ser dada ênfase à utilização do carvão gaúcho na matriz energética do Estado para reduzir nossa dependência de fontes energéticas externas e incentivar a mineração para trazer reflexos positivos a nossa economia. O aspecto ambiental deve ter atenção. A queima do carvão e altamente poluidora e há necessidade de investir na recuperação das áreas mineradas a céu aberto.
Ambiente JÁ: Que ações seu governo desenvolverá pra estimular a implantação de energias alternativas?
Collares: Vamos dar ênfase à implantação de fontes de energias alternativas compatíveis com as características de nosso Estado, por exemplo, energia eólica e biodiesel, com plantações de mamona e outras culturas.
Ambiente JÁ: Que ações específicas seu governo pretende desenvolver em relação à educação ambiental?
Collares: (O candidato não respondeu.)
Segunda-feira (25/09), leia entrevista com o candidato Germano Rigotto (PMDB)
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