Transgênico ocupará 50% da lavoura de soja no Brasil
2006-09-21
Plantio da soja modificada será 15% maior que no ano passado, dizem Embrapa e Abrasem. O
Brasil vai aumentar o plantio de soja transgênica na próxima safra. A estimativa é que entre
40% e 50% da área cultivada com a commodity utilize sementes geneticamente modificadas - ou
até 11 milhões de hectares. Isso representa um aumento de até 15% ante ao que foi plantado no
ano passado. Em 2005, a tecnologia abocanhou cerca de 30% da superfície cultivada com o grão.
"Agora é que, em crise, o produtor quer reduzir custos e usar a tecnologia transgênica", diz
Mauro Osaki, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade
de São Paulo (Cepea/USP), explicando porque haverá um boom do uso de sementes com organismos
geneticamente modificados (OGMs).
Segundo o pesquisador Amélio Dall´Agnol, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa Soja), esta é a primeira safra em que há um volume de sementes certificadas
transgênicas, pois no ano passado as empresas ainda estavam multiplicando o grão. Por isso,
grande parte do cultivo ainda será de semente crioula (reproduzida na fazenda, sem
certificação) - acredita-se que um quarto do que for plantado.
Dados da Embrapa Soja e da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) mostram que o
Rio Grande do Sul - onde o cultivo iniciou ilegalmente em 1997, com o contrabando da Argentina
- segue na liderança do plantio: entre 95% a 98% da área cultivada será com sementes
geneticamente modificadas. Os demais estados do Sul também estariam entre os maiores
utilizadores da tecnologia: cerca de 50% das lavouras de Santa Catarina e Paraná. No
Centro-Oeste, apenas 25% da safra terá OGMs.
Apesar da existência, nesta safra, de uma quantidade maior de semente certificada, o Rio
Grande do Sul continua plantando o grão crioulo. "Tendo em vista o atraso no anúncio da troca,
apenas 35% a 40% da lavoura gaúcha terá semente certificada", diz Carlos Sperotto, presidente
da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul). Segundo ele, os
produtores acabam por usar sementes crioulas porque as variedades certificadas existentes até
o momento eram destinadas a outros estados.
O sistema de troca-troca (ver matéria abaixo) é combatido pela Abrasem. "Como eu contrabandeio
e ainda tenho crédito? ", questiona Iwao Miamoto, presidente da Abrasem. No entanto, foi o
contrabando gaúcho que impôs a legalização da lavoura. O governo só autorizou a venda de
sementes certificadas depois que foi criado o problema de comercialização da safra no Rio
Grande do Sul.
Miamoto diz que é muito mais vantajoso o agricultor buscar a semente certificada. Segundo ele,
com a semente legal paga-se menos taxa tecnológica para a Monsanto - que detém a patente da
tecnologia - do que com a crioula. Além disso, estaria menos susceptível a problemas de
produtividade. Dall´Agnol explica que uma semente certificada tem maior poder de germinação,
por isso a produtividade pode ser maior que a da crioula.
(Por Neila Baldi, Gazeta
Mercantil, 21/09/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=7%2c0%2c1%2c214795%2cYTRE