Queimadas urbanas em Manaus ameaçam floresta amazônica e agravam aquecimento global
2006-09-21
A manchete de “A Crítica”, do dia 31 de agosto passado, diz tudo. Ou quase tudo: “Número de
denúncias de queimadas urbanas cresce”. O texto do jornalista Leandro Prazeres, da equipe do
jornal amazonense, lembra: a queima de lixo doméstico em quintais e terrenos baldios é o principal
tipo de queimada urbana em Manaus – e por extensão, em todo o vasto território do Estado do
Amazonas.
Os dados da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Manaus são contundentes: as denúncias de
queimadas na área urbana da capital (com seus cerca de 2 milhões de habitantes) aumentaram em 56%
no bimestre julho-agosto, em relação ao anterior (maio a junho de 2006).
Para os pesquisadores e climatologistas amazônicos, o aumento dessa forma primitiva de descarte do
lixo doméstico, a par de um hábito cultural entranhado na população, deriva da chegada da atual
estação seca na região. Agora, esses dias, o Norte do Brasil vive a estação do Verão, com todas as
suas conseqüências. Como, por incrível que pareça, a falta de água potável em uma cidade, como
Manaus, banhada pelo Rio Negro.
Num box da matéria de “A Crítica”, um depoimento de uma comerciante e dona de casa de Manaus: “Não
sabia que essas queimadas faziam mal à saúde. A gente sempre queima o mato que é tirado do
quintal. Isso é um hábito do pessoal daqui. Todos os dias, a gente vê as pessoas tocando fogo no
lixo”.
Os consultórios médicos de Manaus andam lotados, nesses dias de um calor africano: a fumaça das
queimadas urbanas irrita os brônquios, causando forte mal-estar nas pessoas em contato mais direto
com a fumaceira.
E essas queimadas urbanas, ainda por cima, aumentam a quantidade de gás carbônico na atmosfera da
Amazônia. O acúmulo deste CO2 e de outros gases venenosos, como se sabe, provocam o efeito estufa,
responsável direto pelo aquecimento global do Planeta Terra. E essas queimadas urbanas, a depender
dos ventos que sopram na Amazônia, têm uma perigosa tendência: elas se alastram e atingem áreas de
preservação ambiental (margens de igarapés e parques florestais), aumentando os sérios riscos ao
delicado equilíbrio ecológico da Amazônia.
O Chefe-Geral da Embrapa - Amazônia Ocidental (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Celso
Paulo de Azevedo, e a chefe de Comunicação daquele órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, são unânimes em reconhecer o problema das queimadas urbanas. E, ainda mais:
mostraram aos jornalistas convidados da SUFRAMA como funciona a tecnologia gerada naquele centro
de pesquisas para tentar resgatar aquelas vastas áreas amazônicas já degradadas pelas queimadas.
O Projeto Tipitamba da Embrapa-Amazônica Ocidental, disseram, busca substituir as antigas práticas
de queima da Floresta para tentar resolver em
definitivo a questão do preparo de áreas para plantio, ou de soja ou de pasto, naquela região.
Antes, revelaram os dois pesquisadores, é preciso deter as queimadas. Disseram que, conforme dados
do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), no ano de 2004, foram queimados cerca de 25
mil quilômetros quadrados de floresta amazônica. À parte tudo isso, comentaram os jornalistas após
a apresentação, durante o espaço para perguntas, persiste a questão do avanço dos grandes
latifundiários da região, tocando o gado após devastar as árvores.
”Nossa missão, aqui na Embrapa Amazônia Ocidental, é viabilizar soluções tecnológicas para o
agronegócio da região, no contexto do paradigma do desenvolvimento sustentável, por meio da
geração, adaptação, validação e transferências de conhecimentos e tecnologias a todos os
envolvidos: desde os grandes latifundiários até os pequenos produtores da agricultura familiar”.
É o caso de perguntar: até onde, e quando, o agronegócio irá se deter, diante de gestos e ações
quase simbólicas para preservar o ambiente amazônico? É certo que o desenvolvimento sustentável é
meta saudável, a ser perseguida. Mas diante de queimadas nas florestas e nas áreas urbanas, diante
da ânsia do lucro a qualquer custo, haverá ainda tempo de salvar a Amazônia para nossos filhos e
netos? Esta questão permaneceu no ar, enquanto os jornalistas tomávamos o longo caminho de volta a
Manaus, em boa estrada ladeada pelas centenárias árvores, plantas e animais ainda vivos.
(Por Renato Gianuca, Ecoagência, 19/09/2006)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1839&Itemid=2