Em 16 estados, uso de agrotóxicos é principal problema de saúde do trabalhador
2006-09-21
O uso indiscriminado de agrotóxicos é o principal problema de saúde do trabalhador em pelo menos 16 estados. É o que mostra consulta feita pelo Ministério da Saúde para definir ações prioritárias na área em cada unidade federativa. Até agora, 19 estados foram ouvidos e o restante deve apresentar relatórios até o final do ano.
O trabalho dá continuidade às discussões da 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, realizada em novembro do ano passado. Após o encontro, que aprovou 362 deliberações, o ministério iniciou uma série de reuniões com especialistas e representantes de movimentos sociais nos estados para definir as prioridades.
Apenas Amapá, Mato Grosso e Santa Catarina não listaram os agrotóxicos entre os problemas que mais apresentam riscos à saúde do trabalhador, dos 19 estados já consultados pelo ministério. Mesmo sem ser apontado com prioridade nesses estados, o agrotóxico pode ser considerado “um problema nacional”, segundo o coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Marco Antonio Pérez.
O coordenador disse que há cerca de 20 anos o uso indiscriminado desse tipo de insumo era um problema restrito às regiões Sul e Sudeste e parte do Nordeste. Segundo Pérez, com a expansão das fronteiras agrícolas e com o desenvolvimento da agroindústria, houve um incremento do uso de agrotóxicos no Centro-Oeste e no Norte.
“Hoje a gente pode dizer que o agrotóxico é um problema nacional, disseminado em praticamente todos estados brasileiros”, avaliou Pérez, que participa do 2º Encontro da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, em Brasília.
De acordo com ele, a estimativa é que, a cada ano, cerca de cinco mil brasileiros, grande parte trabalhadores rurais, sejam intoxicados por agrotóxicos.
No entanto, as estatísticas oficiais ainda são distantes da realidade, afirmou o coordenador. “Esse número é muito maior se a gente levar em consideração que a maioria dos trabalhadores que tem intoxicação leve não procura o serviço de saúde com essa queixa de exposição ao agrotóxico, mas só com a queixa do sintoma clínico”, explicou.
O coordenador destacou ainda que em grande parte do país a legislação brasileira para o uso de agrotóxicos não é respeitada. A lei determina, por exemplo, que o produto deve ser vendido com a apresentação de receituário agronômico e que deve haver um técnico especializado nos locais de venda. “Na imensa maioria das regiões isso não é respeitado, nem pelos empregadores, pelos produtores de agrotóxico, e nem pelos distribuidores. O que a gente vê na realidade é um uso bastante indiscriminado nas diversas regiões do país”, alerta.
Governo quer aumentar número de profissionais qualificados a diagnosticar intoxicação por agrotóxicos
O coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Marco Antonio Pérez, disse ontem (20/9) durante o 2º Encontro da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, que o governo quer aumentar o número de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) qualificados para diagnosticar casos de intoxicação por agrotóxicos. Ele reafirmou que o combate ao uso indiscriminado de agrotóxicos é um dos pontos prioritários da Política Nacional de Atenção à Saúde do Trabalhador.
Segundo o coordenador, a estimativa é de que pelo menos de cinco mil pessoas, grande parte trabalhadores rurais, são intoxicadas por agrotóxicos no Brasil a cada ano. Pérez disse que, muitos casos não entram nas estatísticas oficiais, porque não são notificados como intoxicação.
“As estatísticas que falam de intoxicação por agrotóxicos não expressam o grau de exposição e consumo que temos no país. Daí nossa preocupação em qualificar mais a atenção à saúde para que tenhamos mais dados sobre a exposição ao agrotóxico, principalmente por parte dos trabalhadores”.
Pérez destacou que “o SUS está tentando se aperfeiçoar para fazer, em primeiro lugar, o diagnóstico das intoxicações por agrotóxicos”.
Segundo Pérez, os trabalhadores expostos a esses produtos são os primeiros indicadores do uso indiscriminado desses insumos no país. Ele explicou que entre os sintomas mais comuns estão tontura, dores de cabeça, náuseas e vômitos.
De acordo com o coordenador, a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) está sendo estruturada para diagnosticar, tratar e notificar problemas e incidentes que põem em risco ou causam danos à saúde do trabalhador. Pérez disse que, ao final do ano, a rede deverá contará com 150 Centros de Referência em Saúde do Trabalhador. Em 2003, havia 17 centros em todo o país.
“O que estamos criando neste momento é uma rede, uma estrutura de serviços que possam trabalhar melhor essa questão no SUS, como uma retaguarda técnica tanto para assistência dos trabalhadores que estão expostos como para vigilância desses ambientes de trabalho, porque o agrotóxico, além de contaminar o trabalhador, contamina o meio ambiente e os produtos, principalmente alimentos”, observou.
(Por Juliana Andrade, Agência Brasil, 20/09/2006)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/09/20/materia.2006-09-20.3358793365
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/09/20/materia.2006-09-20.0887515189