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2006-09-21
O prazo até o fim de 2007 para o cumprimento dos contratos de fornecimento de energia eólica firmados com a Eletrobrás, dentro do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), está levando empresas geradoras a importarem equipamentos do Exterior por falta de alternativas no mercado nacional. A questão foi abordada ontem no Fórum e Exposição das Energias Alternativas no Brasil (Power Future 2006), com manifestações de representantes de empresas com projetos de geração no Nordeste diante da falta de opções de fornecedores.

O diretor presidente da SIIF Énergies, Armando de Almeida Ferreira, dirigiu seus protestos à fabricante de aerogeradores Wobben Windpower, que fornece equipamentos e controla as usinas eólicas de Mucuripe, Taíba e Prainha. Armando alega que foi obrigado a comprar aerogeradores da empresa indiana Suzlon, alegando que a Wobben não tinha equipamentos disponíveis nas especificações exigidas pelo projeto da SIIF Énergies para o Ceará.

"Eu tenho uma área para instalar um determinado número de aerogeradores. Preciso que tenham capacidade de dois megawatts, como os do Rio Grande do Sul, mas a empresa (Wobben) só tem de 0,8 MW para entrega imediata. Se tivesse de instalar os de 0,8 MW precisaríamos do dobro da área que temos", diz Armando.

Armando voltou a confirmar a construção de seis usinas eólicas no Ceará nas localidades de Canoa Quebrada, Lagoa do Mato, Paracuru, Icaraizinho, Foz do Rio Choró e Praia Formosa, além de uma sétima no Rio de Janeiro. O investimento total é de R$ 1,2 bilhão para gerar 220,73 MW. As obras começam após as eleições.

O presidente da Soluções de Energias Sustentáveis (SES), Ralf Kynast, faz a mesma queixa do diretor da SIIF Énergies. Ele explica que a SES tem vários projetos de usinas eólicas no Nordeste que somam R$ 1,1 bilhão, com prioridade no Pará, Piauí e Rio Grande do Norte. "Temos também no Ceará, mas não podemos fazer dois projetos ao mesmo tempo porque não tem equipamento como queremos. A Wobben quer que compremos mais terreno para instalar os geradores de 0,8 MW, só que eu tenho uma licença para uma especificação de terreno e não posso mexer nisso", alega.

O diretor industrial e de logística da Wobben Windpower, Roberto Veiga, deixa claro que os aerogeradores de 2 MW fornecidos para o Rio Grande do Sul foram encomendados há dois anos, e que existem outros projetos do mesmo porte sendo negociados. No caso específico da SIIF Énergies e da SES, argumenta, a necessidade era de equipamentos para pronta entrega. "Nós temos capacidade de produção, mas falta negociar prazo. O que temos hoje para atender de imediato são equipamentos com capacidade de 0,8 MW para atender determinados investidores", afirma.

O gerente do departamento de Promoção da Wobben, Ciro Ruiz Filho, devolveu as críticas ao comentar a falta de demanda de projetos de usinas eólicas por parte de empresas. Ele observa que a Wobben começou a exportar pás de hélices para a matriz na Alemanha, a Enercon, e fechar a fábrica de torres do Pecém, com dispensa de pessoal. "Não viemos para cá para exportar, mas se não tiver demanda é o que temos de fazer. O problema é de negociação, não é de falta de capacidade técnica ou tecnológica", conclui.

O vice-presidente da World Wind Energy Association (WWEA), Everaldo Feitosa, considera natural existir embates como esse, uma vez que se trata de um mercado com negócios da ordem de US$ 3 bilhões. Segundo Everaldo, o problema é que hoje o Brasil demorou para fazer funcionar a legislação que deu origem ao Proinfa. Por isso, acrescenta, o País não é tão atraente quanto há cinco anos para muitas empresas, que estão voltando seus investimentos para a China e a Índia.

Proinfa recebe críticas
O andamento do projeto de construção de usinas eólicas no Brasil foi criticado ontem pelo assistente da Diretoria de Engenharia da Eletrobrás, Sebastião Florentino da Silva, durante o painel do Power Future 2006 que avaliou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Sebastião observa que os investimentos previstos no projeto são da ordem de R$ 400 milhões e que já foram contratados 1.420 megawatts, mas apenas 208 MW foram construídos e outros 220 MW estão no meio do caminho. "Se não vierem empresas para o Brasil teremos de parar o projeto por aí. Estamos acionando o Ministério das Minas e Energia para verificar o que pode ser feito. Se construirmos de 500 a 700 MW por ano, talvez consigamos justificar outras fábricas no País. A data-limite para os empreendedores apresentarem o seguro-fiança à Eletrobrás é 30 de novembro", afirma.

O diretor presidente a SIIF Énergies, Armando de Almeida Ferreira, é um dos críticos do desenvolvimento do parque eólico brasileiro. Ele observa que o projeto está aquém do esperado por alguns fatores. Entre os quais o surgimento de licenças não legais, a penalização de projetos localizados em Estados com grande número de licenças de instalação emitidas, o valor econômico, a indisponibilidade de aerogeradores, a burocracia administrativa e a complexidade tributária brasileira.

A diretora do Ministério de Minas e Energia, Laura Porto, afirma que dos 139 empreendimentos previstos para o setor, 16 estão em operação comercial (419,96 MW), 57 já começaram a construção (1.251,94 MW), 101 projetos com equipamentos de proteção coletiva (EPCs) contratados (58 de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH)), 22 de biomassa e 21 de eólica.

Dos 139 projetos, 88 participam da carteira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia (Basa), Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA) e Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene), cinco usam recursos próprios, 40 ainda não iniciaram processo de financiamento (32 são da fonte eólica), três ainda não tiveram os novos cronogramas homologados pela Aneel. O total em carteira no âmbito do Proinfa é de R$ 6,21 bi.

Laura Porto diz que o BNDES reservou R$ 6 bilhões para o Proinfa e ampliou a participação dos investimentos financiáveis em até 80%, permitindo a amortização em até 12 anos. Em carteira, o banco possui R$ 3,46 bilhões hoje para investir. O BB trabalha como repassador dos recursos do BNDES e, diretamente, com os recursos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), tendo R$ 1,03 bilhão para aplicar. A Adene/FNDE tem em carteira R$ 220 milhões e o BNB/FNE, R$ 710 milhões. (CB)

Defesa da nacionalização
Investimento maciço em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias nacionais para geração de energias alternativas e fortalecimento da comunicação entre os universos acadêmico e industrial. A nacionalização é a palavra-chave no programa dos governos de Lula e Alckmim para o setor de energias alternativas. As propostas dos dois candidatos à Presidência para o segmento foram apresentadas ontem no Power Future. Os representantes dos demais candidatos não compareceram.

No geral, os representantes dos dois candidatos apresentaram discursos semelhantes, ressaltando a importância de ações voltadas para o desenvolvimento do biodiesel, a importância do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), e a necessidade de explorar o potencial dos ventos do Nordeste para a geração de energia eólica.

Maurício Tolmasquim, representante do presidente Lula, comparou os números do governo que representa com os de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Segundo ele, por exemplo, nos primeiros cinco anos do governo tucano, foram instalados 1991 MW de capacidade de energia no País. Ao final de seu mandato, de acordo com Tolmasquim, Lula deverá ter instalado 4.378 MW. "Se tivessem investido mais, não teríamos passado por aquele período de racionamento", diz.

Representante de Alckmim, Ivan Camargo ressaltou que o Brasil ainda precisa aumentar muito a sua oferta de energia, com foco na atração de investimentos. Segundo ele, o País encontra-se em uma situação delicada e o risco de novos apagões não está descartado. "Vários estudos demonstram a possibilidade de déficit de energia, principalmente no Nordeste e isso nos preocupa", diz.

Matriz Energética Nacional 2005
Hidroeletricidade* 15%
Cana-de-açúcar* 13,9%
Madeira e outras biomassas* 13,1%
Outras renováveis* 2,7%
Urânio 1,2%
Carvão mineral 6,4%
Gás natural 9,3%
Derivados de petróleo 38,4%
Total: 218,6 milhões de toneladas de equivalente de petróleo por pessoa/ano (TEP)
* Fontes renováveis: 44,7% (Dados do Ministério das Minas e Energia)
(Por Adriana Albuquerque, O Povo – CE, 20/09/2006)
http://www.opovo.com.br/opovo/economian/631383.html

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