Dinheiro das poluidoras transnacionais cala políticos capixabas, denuncia Nelson Aguiar
2006-09-21
As doenças causadas à população e a destruição ambiental produzidas pela poluição das transnacionais não entram na pauta de discussão entre os candidatos ao governo capixaba. Estão omissos sobre a questão Sérgio Vidigal (PDT) e Paulo Hartung (PMDB), este candidato à reeleição, e os outros candidatos. Tampouco debatem tais problemas os candidatos ao Senado, à Câmara dos Deputados e à Assembléia Legislativa.
Na raiz da falta de discussão e de propostas para que os danos à saúde e ao meio ambiente sejam evitados, ou pelo menos minimizados, está o financiamento das campanhas políticas pelas transnacionais poluidoras. As Companhias Siderúrgica de Tubarão (CST) e Belgo, ambas da Arcelor-Mittal, Vale do Rio Doce (CVRD) e a Aracruz Celulose, entre outras, dão rios de dinheiro aos políticos. A opinião é do candidato a deputado estadual Nelson Aguiar (PDT), também advogado. A omissão dos políticos sobre temas desta importância é irresponsável e criminosa, diz.
Nelson Aguiar relata que ao distribuir folhetos de sua candidatura em Jardim Camburi, bairro de Vitória mais próximo das sete usinas da CVRD e duas da CST, foi informado pela diretora de uma das escolas do bairro que não há uma semana em que os estudantes passem sem crise respiratória. Há épocas em que 70% das crianças apresentam doenças produzidas pela poluição, disse a diretora.
O candidato diz que é importante saber por que um problema desta grandeza, que afeta a toda a população e em particular crianças e idosos, não entre em debate. E aponta: "A grande maioria dos políticos recebe dinheiro das empresas para suas campanhas. Eles se calam sobre os temas relevantes para a população e depois ainda querem saber por que a classe política está tão desprestigiada".
Para Nelson Aguiar, não há como ignorar o pó de minério que se acumula sobre os imóveis, que contamina o mar e que afeta a saúde das pessoas. Não há como ignorar as doenças respiratórias e alérgicas provocadas pela poluição, como comprovam pesquisas realizadas sobre o tema na Grande Vitória. Afirma: "Esta negligência é criminosa".
Sem que os políticos pautem a discussão, não há espaço na televisão nos programas dos candidatos ao governo do Estado, Senado, Câmara Federal e Assembléia Legislativa. "Os políticos estão prisioneiros das poluidoras. Meia dúzia de candidatos, onde me incluo, denunciam que os moradores são prejudicados, exigem providências. Quando as prestações de contas são abertas, vamos ver o dinheiro das transnacionais na maioria das campanhas eleitorais".
Ao se referir à expansão anunciada pelas transnacionais CVRD e CST em Ponta Ubu, na divisa de Anchieta e Guarapari, Nelson Aguiar cobra: "Como os políticos capixabas são incapazes de evitar uma outra catástrofe como a de Ponta de Tubarão? A região é desprotegida, voltada para o turismo. Logo vamos constatar que a rede de saúde da região, por exemplo, será insuficiente para atender à expansão das transnacionais poluidoras".
Para ele, se o governo Paulo Hartung fecha os olhos para a poluição causada pelas transnacionais, os políticos de uma maneira geral teriam que pautar a discussão. "Os candidatos não podem mais fechar os olhos ao descalabro produzido pelas poluidoras", afirma Nelson Aguiar.
Diz ainda que "as transnacionais botam dinheiro nas campanhas em todo o País. Calam o governo e a oposição. Quando os políticos mudam a legislação eleitoral, acabam por favorecer as empresas, como a Aracruz Celulose".
Na produção das leis, "quantos são bandidos que estão no Congresso Nacional?", quer saber Nelson Aguiar. Estes produziram um sistema eleitoral criminoso, que facilita os que estão no poder. Diz que tal sistema exige a prestação de contas de uma caneta pelo candidato comum, sem mandato.
Já os parlamentares têm tratamento diferente: "À disposição de um deputado estadual há carro e motorista. O gabinete tem 17 servidores colocados a serviço de sua campanha, tudo pago com dinheiro público. De tudo isso o parlamentar não precisa prestar contas. A legislação beneficia o status quo".
Como advogado, Nelson Aguiar promete ações judiciais visando a responsabilizar as empresas pela degradação ambiental que promovem.
Aracruz Celulose foi campeã nas eleições em 2002
O candidato a governador Sérgio Vidigal (PDT) assume que está recebendo doação de campanha das transnacionais Aracruz Celulose e Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), entre outras empresas, como divulgado em "A Gazeta", edição desta terça-feira (19/9). Não diz quanto amealha de cada empresa, mas assegurou ao jornal que divulgará os valores.
Paulo Hartung, por sua vez, informa que só divulgará os doadores e os valores que disponibilizaram para a campanha em busca de sua reeleição a governador 30 dias após as eleições, como manda a legislação eleitoral, registra o jornal.
Mas, na prestação de contas da eleição que o conduziu ao governo do Estado em 2002, Paulo Hartung informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a Aracruz Celulose doara à sua campanha R$ 500 mil. Foi o maior apoio oferecido pela empresa a um político no Espírito Santo naquelas eleições, como destacou na ocasião a Rede Alerta Contra o Deserto Verde. Naquelas eleições, a Aracruz Celulose doou R$ 4.779.762,63 para políticos em todo o País.
Ainda em 2002, a campanha de Paulo Hartung ao governo do Estado recebeu R$ 250 mil da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e R$ 300 mil da Navegação Vale do Rio Doce (da CVRD).
Naquelas eleições o então candidato a deputado federal Renato Casagrande (PSB), que foi eleito, recebeu R$ 80 mil da Aracruz Celulose. Ao partido de Casagrande coube a indicação para a Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente (Seama)/Iema. Casagrande recebeu ainda R$ 25 mil da Navegação Vale do Rio Doce e R$ 50 mil da CST.
O campeão entre os beneficiados com dinheiro das poluidoras em 2002 entre os parlamentares foi o senador Gerson Camata (PMDB). Recebeu dois cheques da Aracruz Celulose, um no valor de R$ 150 mil e outro de R$ 100 mil. O senador, que recebeu seu terceiro mandato - atualmente está licenciado - recebeu ainda R$ 75 mil de doação de campanha da Navegação Vale do Rio Doce S/A e R$ 50 mil da CST.
Vários outros políticos também receberam doações de campanha das poluidoras.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário – ES, 19/09/2006)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/setembro/19/noticiario/politica/19_09_01ele.asp