Mudança climática já entra como critério de avaliação de empresas
2006-09-21
As mudanças climáticas são cada vez mais parte das preocupações dos administradores de recursos
brasileiros, a exemplo do que já acontece há alguns anos no mercado externo. A versão deste ano do
Carbon Disclosure Project (CDP) - iniciativa internacional lançada em 2002, com o propósito de
obter das maiores companhias de capital aberto do mundo, informações sobre suas políticas e
estratégias referentes às mudanças climáticas - contou com a adesão de 15 instituições
brasileiras, entre bancos, seguradoras e fundos de pensão.
"Os investidores querem saber se estas empresas são sustentáveis a longo prazo e se merecem
receber seus recursos", diz Giovanni Barontini, sócio da consultoria Fábrica Éthica, um dos
coordenadores da pesquisa que, pela primeira vez, avaliou as companhias brasileiras.
Participam do CDP em todo o mundo 225 instituições financeiras responsáveis pela gestão de US$ 31
trilhões em recursos. "Este volume representa nada menos que um terço dos ativos financeiros
globais", diz Barontini.
"A mudança climática é o tema transversal mais importante para a avaliação das empresas sob a
perspectiva de sua continuidade", diz. Segundo o especialista, no mundo todo está se consolidando
um novo conceito de avaliação de empresas, a "governança climática". "Os acionistas das companhias
abertas cada vez mais cobram dos executivos atenção à questões sociais e ambientais, e não apenas
aos dados financeiros", afirma. Segundo ele, esta prática começa a se disseminar no Brasil,
principalmente por meio dos grandes investidores institucionais.
"Os investidores já perceberam que o valor da ação pode ser negativamente impactado pela inércia
da empresa em tomar atitudes frente às mudanças climáticas", observa. Na mesma medida, uma atitude
ativa na busca por soluções ambientalmente sustentáveis gera valor à companhia. Ele cita o exemplo
da Toyota que, segundo diz, nos últimos 20 anos ganhou nada menos que 400% de participação no
mercado americano em boa parte devido a suas pesquisas no desenvolvimento de veículos menos
poluentes, como o carro híbrido, por exemplo.
No levantamento deste ano, iniciado em fevereiro, foram enviados questionários para duas mil
companhias em todo o mundo, com índice de resposta bastante elevado, 72%, contra apenas 47% da
primeira pesquisa. A Fábrica Éthica está finalizando um relatório com as respostas das empresas
brasileiras e que será apresentado oficialmente em novembro, no congresso anual da Abrapp, a
associação dos fundos de pensão, uma das principais patrocinadoras da versão brasileira, junto com
outras instituições como BM&F, o banco ABN Amro Real, e os três maiores fundos de pensão do país -
Previ, Petros e Funcef.
Foram consultadas as 50 empresas com maior liquidez do Índice Brasil (IBrX) da Bovespa e 64%
responderam à pesquisa. Dados peliminares mostram que alguns setores, como o de telecomunicações,
ainda não perceberam a importância do tema, pois o índice de respostas foi muito baixo, já o setor
bancário e de papel e celulose, por exemplo, foram bastante cooperativos, conta.
(Por Denise
Juliani, Gazeta Mercantil, 20/09/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=10%2c0%2c1%2c212684%2cYTRE