A questão da mudança climática tornou-se um embate entre comunidades acadêmicas, políticos e a imprensa. A principal querela em jogo é sobre as origens do aquecimento global que vem sendo observado nas últimas décadas - exatamente, se esse aquecimento, que leva à chamada mudança climática - é de origem natural ou é causado pelo homem - e, se essa última hipótese for verdadeira, o que deve ser feito para evitar futuros efeitos.
Para uma grande maioria de cientistas, a mudança climática é uma tendência de longo prazo, dificilmente reversível, amplamente causada pela ação humana, ou seja, pelo lançamento de um volume incomensurável de gases de efeito estufa sobre a atmosfera, resultando sérios danos. Quem compartilha dessa visão são representantes das seguintes instituições: American Geophysical Union, Joint Science Academies, Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), American Meteorological Society, and American Association for the Advancement of Science (AAAS).
No último século, as temperaturas médias globais subiram entre 0,4ºC e 0,8ºC, e a proporção em que esse aquecimento foi causado por atividades humanas ainda é uma questão aberta. Os principais pontos da controvérsia são: se a mudança climática está além das variações naturais da temperatura da Terra, em uma perspectiva histórica; se e em até que ponto atividades humanas, especialmente industriais, são responsáveis por essa mudança; quão amplas serão as mudanças futuras; quais serão as conseqüências da mudança. Para os cientistas que não acreditam na influência antropogênica na mudança climática, as causas do aquecimento global são variações na atividade solar e atividade vulcânica.
Entre os argumentos dos que defendem a influência humana no aquecimento global recente estão os seguintes: as bolhas de gás carbônico presas em pedaços de gelo nos dá detalhado registro de que as temperaturas e o dióxido de carbono subiram e caíram juntos nos últimos 400 mil anos; a elevação da presença de dióxido de carbono e de outros gases estufa é a maior nas últimas centenas de milhares de anos, sendo concomitante com o aparecimento de dióxido de carbono proveniente de combustíveis fósseis. Já os argumentos contrários apontam que as conclusões do IPCC estçao fundamentadas em modelos climáticos fracos; que há uma grande confusão entre correlação e causalidade nas tentativas de relacionar o aquecimento global à elevação dos níveis de dióxido de carbono após a Revolução Industrial (para a lista completa dos argumentos prós e contrários, ver
Global Warming Contrversy. Do lado dos que não acreditam na tese de que a mudança climática é um fato estão políticos, especialmente ligados aos países não signatários do Protocolo de Kyoto, um acordo global firmado em 1987 e que entrou em vigor em fevereiro de 2005, visando à redução das emissões de gases de efeito estufa em níveis médios de 8% com base nas quantidades emitidas em 1990. Esse protocolo vige até 2012, mas não foi assinado pelos Estados Unidos, país responsável pela emissão de 25% dos gases de efeito estufa do planeta.
Papel da mídia
Mais recentemente, a mídia vem sendo responsabilizada pela disseminação de alarmismo e exagero ao reportar questões sobre a mudança climática. Segundo artigo recentemente escrito por Richard S. Lindzen, no Wall Street Journal, já em 1988, quando a revista Newsweek pela primeira vez falou sobre o assunto da mudança climática recente, "defendeu-se que todos os cientistas concordavam"(LINDZEN, 2006). Lindzen cita uma pesquisa realizada pela cientista social Nancy Oreskes, publicada recentemente na revista Science, que mostra que foram publicados 928 artigos na base de dados ISI Web of Knowledge, entre 1993 e 2003, contendo a expressão "global climate change". Um outro cientista - Benny Peiser - checou esses artigos e verificou que apenas 13 deles endossavam a visão consensual sobre a mudança climática - a que está na mídia - e que vários, de fato, se opunham a essa visão. A BBC, há poucos dias, veiculou reportagem onde acusa a mídia de sustentar uma posição excessivamente alarmista com relação à mudança climática, comparando tal postura, nas reportagens, com um comportamento "pornográfico" (BLACK, 2006).
Mais carvão
Apesar de a queima do carvão ser considerada uma das maiores vilãs do aquecimento global - respondendo por 37% das emissões de dióxido de carbono no mundo -, especialistas garantem que existe tecnologia para o uso "limpo" do carvão". Trata-se do ciclo combinado de gaseificação integrada (IGCC). Em recente artigo, Talbot (2006) descreve a tecnologia e defende que mesmo sendo o carvão o combustível fóssil mais abundante, pouco tem sido feito para tornar a sua queima limpa mais acessível.
Referências:
BLACK, Richard.
Media attacked for "climate porn", BBC. Acessado em 02/08/2006.
LINDZEN, Richard.
There Is No "Consensus" on Global Warming, The Wall Street Journal. (Eastern edition). New York, N.Y.: Jun 26, 2006. pg. A.14
TALBOT, David. The Dirty Secret. Technology Review.July/August 2006; 109, 3, ABI Inform Global, p. 52-57.
WIKIPEDIA
Global Warming Controversy. Acessado em 24/08/2006.
(Por Cláudia Viegas, 18/09/2006)