El Niño deve afetar a produção 2006/07 de trigo
2006-09-18
Todos os dias o orizicultor Ricardo Pileco, de Dom Pedrito (RS), olha para o céu, esperando
uma chuva para começar a plantar arroz. Em sua região, as barragens têm água para apenas 30%
da área. A mesma precipitação que ele tanto quer agora, pode vir a atrapalhá-lo depois.
Os meteorologistas prevêem que haverá El Niño este ano, o que provoca um verão mais chuvoso
no Centro-Sul do País. Uma boa notícia para todos os grãos, mas péssima para o arroz. Na
última década, em anos de incidência do fenômeno, a safra brasileira quebrou, em média 7%,
enquanto a gaúcha - principal região produtora e mais afetada pelo El Niño - 16%.
Demanda não atendida
Teoricamente, se esse percentual de perda fosse aplicado à colheita atual, o Brasil
precisaria importar mais de 2 milhões de toneladas para atender o consumo. No entanto,
analistas consideram que a produção futura será 11% maior, em função do aumento de área de
15%, sobretudo no Centro-Oeste. Por essas projeções, sem considerar efeitos de El Niño, o
País colheria 12,5 milhões de toneladas - necessitando importar apenas 500 mil toneladas
para atender a demanda.
"Nas últimas duas safras que sofreram com El Niño, houve quebra", diz o analista Carlos
Cogo, da Cogo Consultoria Agroeconômica. O meteorologista Paulo Etchitchury , da Somar
Meteorologia, explica que o fenômeno estará configurado até o final do ano. Na avaliação
dele, o excesso de precipitações em uma época que o grão deveria receber maior ensolação
pode deixar a planta mais susceptível a doenças, afetando a produtividade, e atrapalhando a
colheita, em março.
"O arroz precisa de água no pé e sol na cabeça", sentencia Pileco. Ou seja, tempo nublado ou
chuva fora da hora prejudica a produção. Nas safras 1997/98 e 2002/03, a produtividade em
Dom Pedrito, terra de Pileco, caiu mais de 15%.
Esperança da chuva
Apesar de prejudicar a produção, a ocorrência do El Niño ainda não está preocupando os
agricultores. O que eles querem é que as chuvas voltem aos patamares normais agora, pois o
plantio começa em outubro. Francisco Schardong, presidente da Comissão do Arroz da Federação
da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), explica que existem áreas críticas
na Fronteira Oeste e Campanha, que respondem por 30% da safra estadual do grão. "Se as
condições climáticas não melhorarem, haverá redução de 20% no cultivo", avalia. O
diretor-comercial do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Rubens Silveira, acredita que
há tempo para as áreas se recuperarem.
Na semana passada, choveu em várias regiões do Rio Grande do Sul, inclusive nas terras de
Pileco. Segundo ele, com isso, a água armazenada, suficiente para 20% da área passou para
30%. Pileco segue olhando para o céu, pedindo precipitações para que possa plantar pelo
menos 70% da área, pois considera que não há mais como recompor todo o déficit.
(Por
Neila Baldi, Gazeta Mercantil, 18/09/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=7%2c0%2c1%2c207980%2cYTRE