A Aracruz Celulose já começou a planejar o transporte da madeira para aumentar sua produção no Rio Grande do Sul. Com uma nova unidade e a ampliação da unidade da Riocell, em Guaíba, a empresa pretende chegar a 1,8 milhões de toneladas/ano de celulose no Estado a partir de 2010. Para isso, vai precisar de cinco milhões de toneladas de madeira por ano.
O transporte fluvial deverá responder por 40% do abastecimento, o que vai exigir um investimento superior a 20 milhões de dólares na hidrovia do rio Jacuí. O diretor de operações da Aracruz, Walter Lídio Nunes, apresentou na última quinta-feira (14/09) a equipe de especialistas que já trabalha no projeto de transporte hidroviário.
Hidrovia da madeira vai ligar Cachoeira a Guaíba
“Iniciamos uma caminhada que vai mudar a economia do Rio Grande do Sul”, disse o presidente da Caixa RS, Dagoberto Gogoy, ao abrir o seminário promovido pela Aracruz para apresentar a empresários e representantes do governo a equipe de especialistas que vai planejar o transporte de madeira de Cachoeira do Sul até Guaíba, pela hidrovia do Jacuí.
A empresa pretende transportar dois milhões de toneladas/ano de madeira por via fluvial, com uma redução de custo de 15% em relação ao transporte rodoviária. Esse volume equivale a 40% do total de madeira de eucalipto que a Aracruz vai consumir para produzir 1,8 milhão de toneladas de celulose com a ampliação da Riocell e a construção de uma nova unidade no mesmo sítio em Guaíba. A nova unidade deverá entrar em operação entre 2010 e 2015.
Para preparar a hidrovia, hoje subutilizada, a empresa vai investir entre 20 e 30 milhões de dólares, incluindo desde a fabricação das embarcações até a construção de terminais em Cachoeira e Rio Pardo e Guaíba. O projeto de logística será feito por uma equipe de engenheiros da Politécnica da Universidade de São Paulo, coordenada pelo engenheiro Cláudio Barbieri da Cunha. Eles discorreram sobre as diversas etapas do projeto e prestaram informações aos empresários do setor naval, presentes ao encontro. A Aracruz pretende fazer o máximo de contratações com as empresas locais e financiar a construção das barcaças por um operador privado.
“Este talvez seja o maior plano de governo em toda a história do Rio Grande do Sul”, exagerou Walter Lídio Nunes ao abrir o seminário que a empresa promoveu no auditório da Caixa-RS para aproximar os técnicos dos representantes do governo e dos empresários gaúchos do setor naval. Ele se referia ao chamado Arranjo Produtivo de Base Florestal, que envolve três grandes projetos de celulose – Aracruz, Votorantim e Stora Enso – num total de 3 bilhões de dólares de investimentos no Estado.
Nunes disse que a empresa pretende reduzir a dependência do transporte rodoviário por razões de custo e também pelo impacto ambiental. Transportar dois milhões de toneladas/ano de madeira por barcaças equivale a um tráfego de mil caminhões por dia na BR-290.
Para a expansão prevista da sua produção de celulose, a Aracruz vai ter que ampliar em 100 mil hectares o plantio de eucaliptos, além de outros 55 mil hectares de áreas de preservação. Outra razão da utilização do transporte fluvial, segundo o diretor, é a necessidade de evitar o plantio contínuo das florestas, por razões ambientais. “A hidrovia facilita a fragmentação dos plantios”, explicou Nunes.
Ele disse que a indústria de celulose “foi escolhida pelo movimento verde como o vilão ambiental e hoje, talvez por isso mesmo, tenha as melhores práticas preservacionistas, inclusive com ganhos de eficiência na produção, com menores custos”. Além dos empresários interessados no negócio, manifestou-se o representante da Fepam, Antonio Carvalho, para garantir que o órgão ambiental será parceiro nestes projetos que, segundo ele, decorrem de uma ação de governo. “O meio ambiente não é problema, é solução”, afirmou, provocando comentários irônicos da platéia.
O impacto ambiental é o ponto mais polêmico dos projetos, que enfrentam forte resistência dos movimentos ecologistas. E uma das principais queixas dos empresários é a lentidão com que a Fepam concede as licenças ambientais para os plantios de eucalipto.
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JornalJÁ,15/09/2006)