O combate ao aquecimento global e a proposta da criação de medidas governamentais para proteger a Amazônia com a compensação pela retirada de seus produtos não-renováveis, como minérios, e ainda a proteção da sua biodiversidade estão na IV Carta Amazônica, o documento final da IV Amazoníada - em defesa da Amazônia, congresso encerrado na quinta-feira (14/9) no Palácio da Agricultura, sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Pará (Faepa), em Belém, com o objetivo de propor alternativas para que a Amazônia não entre em colapso. O documento será encaminhado para todos os níveis de governo do País, e disponibilizado para consultas no site da orgnaização não-governamental Cisa, a Conferência Internacional Israelita de Sociosfera na Amazônia.

O coordenador técnico-científico do evento, Francisco Matos, disse que, atualmente, muitas propostas que tramitam em diversas casas legislativas do Brasil já utilizam material resultante das edições anteriores da Amazoníada. “Uma das nossas maiores preocupações nesse evento é que sejam criados de fato instrumentos governamentais para amparar as muitas propostas em defesa da Amazônia que agora compõem esse documento”, diz, ressaltando que o temido colapso da Amazônia pode ocorrer se não houver uma exploração racional e monitorada de seus recursos naturais, além de um combate efetivo aos desmatamentos e outros fatores que causam o superaquecimento global.

A presidente da Cisa, a arquiteta e ambientalista Oro Serruya, avaliou a IV Amazoníada como mais um grande momento em que a pesquisa se uniu às ações para proteger a biodiversidade da Amazônia e garantir a sua sustentabilidade para o bem do planeta. “Todos as pessoas que participaram do encontro deram a sua contribuição para encontrar respostas e alternativas para os fenômenos ambientais que têm alterado o comportamento e a biodiversidade da Amazônia nos últimos anos, e que se reflete diretamente na vida do homem”, afirma.

Entre os temas do encerramento, a engenheira agrônoma Therezinha Xavier Bastos, que há 40 anos é pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, abordou a questão da “Agricultura e Clima na Amazônia” durante a programação científica. Entre outras coisas, ela citou o dendê como a planta que melhor ”seqüestra” carbono, ao explicar que pode haver uma perfeita interação entre a agricultura e o clima. “Por isso não se justificam as notícias alarmistas segundo as quais a agricultura é responsável pelas mudanças climáticas regionais. As modificações do clima têm inúmeros fatores determinantes e o desmatamento é apenas um deles”, afirmou a cientista, explicando que a substiuição de cobertura vegetal não é crime e pode ser aplicada mesmo na Amazônia.

Ela lembrou que o próprio ser humano, com suas atividades domésticas, também contribui para as modificações climáticas, e lamentou a demora na execução do Macrozoneamento Econômico-Ecológico (ZEE) elaborado pelo governo do Pará. “Foi um projeto discutido com a sociedade paraense e aprovado, por unanimidade, que prevê a preservação de 65% do território do Pará e utilização de até 35% em atividades produtivas. Um trabalho realizado por gente séria, mas que ainda necessita de detalhamento e recursos para ser executado”, disse.

A jornada científica da IV Amazoníada apresentou uma variedade de painés sobre mudanças climáticas e impactos ambientais observados na região nos últimos anos.
(O Liberal – PA, 15/06/2006)
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