Documento do WWF sobre agenda elétrica sustentável é perigoso para o País, acusa Tolmasquim
2006-09-18
A adoção de equipamentos e lâmpadas que consomem menos energia pode representar uma
economia de R$ 33 bilhões aos brasileiros até 2020. Essa é a conclusão da Agenda Elétrica
Sustentável, documento elaborado pelo WWF que sugere caminhos para a utilização de
energia elétrica de forma mais eficiente. Apresentado quinta-feira (14/9), o estudo
recebeu duras críticas do governo.
Deixando a diplomacia de lado, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE),
Maurício Tolmasquim, questionou os índices utilizados para embasar a pesquisa, como taxas
de crescimento e potencial energético de usinas hidrelétricas. "Acreditar que é possível
crescer sem construir novas usinas é uma utopia que levará o país ao
não-desenvolvimento", disse. "São estudos perigosos para o país. Nós não podemos iludir a
população brasileira."
Um dos pontos apontados por Tolmasquim foi a projeção da necessidade de consumo para 2020
de 2.586 kWh por domicílio o que, segundo ele, seria menos do que a metade do projetado
pelo mercado. Tolmasquim destaca que o crescimento da economia e a distribuição de renda
elevará a necessidade de consumo de energia elétrica dos brasileiros. "Adotar o cenário
WWF é reconhecer que o Brasil está condenado a continuar nos próximos 15 anos com a atual
e injusta distribuição de renda". Responsável pelo estudo, o professor da Unicamp Gilberno
Januzzi rebateu as críticas dizendo que Tolmasquim está comparando dois conceitos
diferentes. Segundo ele, o consumo de kWh é abaixo do esperado no estudo, porque leva em
conta a utilização de equipamentos e eletrodomésticos mais eficientes, que oferecem o
mesmo serviço com menor utilização de energia. "Nós não fizemos aqui uma peça de ficção,
mas é preciso que o governo adote uma política de eficiência energética para que isso dê
certo.
A assessora do WWF para mudanças climáticas, Karen Suassuna, complementa que os números
usados no estudo, como o crescimento do PIB, são "muito parecidos com os do governo". "Há
sempre uma tentativa de colocar o meio ambiente contra o desenvolvimento. Não podemos
criar essa dicotomia, os dois têm que andar juntos", defendeu.
O estudo do WWF foi dividido em duas partes, a inserção de políticas de eficiência
energética no planejamento para o setor e o estímulo à utilização de energias renováveis.
Sugere ainda que sejam feitos leilões de projetos para economia junto a leilões de
energia nova e que o governo adote regras mais rígidas para o consumo de energia nas
indústrias.
O documento pede ainda que 20% da matriz energética brasileira seja de fontes renováveis
até 2020.
(Por Lorenna Rodrigues, Gazeta Mercantil, 15/09/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=9%2c0%2c1%2c205900%2cYTRE