Certificação deve ampliar mercados para o guaraná
2006-09-15
Natural, o produto sempre foi. Afinal, o cultivo na região sempre ocorreu em áreas da floresta amazônica nas imediações do município de Urucará, a 280 quilômetros de Manaus. Faltavam procedimentos e normas para qualificar a produção como orgânica. Faltava, porque desde o mês de junho, 40 dos 71 produtores vinculados à Agrofrut (Cooperativa Agrofrutífera de Produtores de Urucará) e a própria Agrofrut receberam certificação orgânica para o produto.
"É um valor a mais que nós agregamos ao guaraná da região, ampliando as possibilidades de negócio no exterior, tanto no comércio justo, que já trabalhamos, quanto em mercados fora do comércio justo", avalia o diretor de Administração e Finanças da Agrofrut, Antônio Carlos Monteiro, o Toinho, como é conhecido entre os produtores.
Para Toinho, além de abrir novos mercados, a certificação do guaraná como orgânico poderá ter impacto também no preço do produto. Antes comercializado entre 15 e 20 euros o quilo para a Europa, agora o guaraná certificado pode ser vendido por algo em torno de 26 euros o quilo para o mesmo mercado europeu. "Se isso for concretizado terá um impacto grande sobre a receita da cooperativa e dos cooperados", assinala.
A certificação do guaraná produzido em Urucará e da planta industrial da Agrofut foi realizada pela Ecocert Brasil. "A certificação foi importante para que os produtores e a cooperativa mantivessem mercados com os quais já trabalhavam e, quem sabe, conquistarem novos mercados", diz a gestora do projeto “Desenvolvimento do Agronegócio do Guaraná de Urucará” pelo Sebrae no Amazonas, Fernanda Benaion Cardoso.
Segundo Fernanda Benaion, o projeto na região de Urucará prevê uma segunda etapa, na qual os outros 31 produtores vinculados à Agrofrut iniciarão o processo para certificação orgânica de suas propriedades. "Será o ápice de todo um trabalho começado por missionários italianos, na década de 1970, que introduziram a cultura do guaraná na região do baixo e médio Amazonas", assinala.
Para Carmem Lúcia de Souza Horn, uma das coordenadoras da carteira de projetos de fruticultura pelo Sebrae Nacional, a certificação como produto orgânico é um diferencial de mercado, principalmente para os pequenos produtores. "Há um interesse crescente dos mercados internacionais por produtos orgânicos cultivados em pequenas propriedades", avalia.
Compradores europeus
O cultivo do guaraná é uma tradição na região de Urucará e envolve cerca de 700 pessoas. O período de floração e colheita vai de setembro a fevereiro, sendo que a média de produção, por safra, é de 32 toneladas. Hoje, os principais mercados compradores são a Itália e a França. Mas o mercado interno, apesar de em menor proporção, também é um canal de escoamento para comercializar o produto.
Segundo Toinho, diretor de Administração e Finanças da Agrofrut, em novembro, quando a colheita estiver praticamente concluída, já será possível ter uma idéia mais precisa da safra. Por enquanto, ele estima 25 toneladas em 2007, uma quebra de 50% em relação às safras anteriores. "A seca que atingiu a Região Norte prejudicou muito", diz. Para o diretor da Agrofrut, não fosse a seca, a produção seria maior que as anteriores e poderia chegar a algo em torno de 38 toneladas.
(Jornal do Commercio, 14/09/2006)
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