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2006-09-15
No Ceará, apenas grandes fazendas exportadoras têm condições de atender as exigências dos consumidores do Primeiro Mundo, que vão desde regras sanitárias a ausência de trabalho infantil no processo produtivo, passando ainda por uso controlado de agrotóxicos e respeito ao meio ambiente. A realidade local, no entanto, não é muito diferente do resto do País. Enquanto o México, que centrou foco nas vendas para os Estados Unidos, tem 7 mil produtores certificados para exportar, o Brasil tem apenas 100.

Esses números foram apresentados por Daniel Velloso, presidente do Instituto Agrotecnologia, entidade destinada a melhorar a qualidade do processo produtivo no campo. Ele proferiu ontem uma palestra sobre as exigências do mercado europeu para a fruticultura, como parte da programação do Encontro Setorial Fruit Brasil, evento que terminou ontem (14/9), ocorrendo em paralelo à Feira Internacional de Fruticultura, Floricultura e Agroindústria (Frutal), no Centro de Convenções. Na sua avaliação, o foco do País, hoje, deve ser a capacitação dos pequenos produtores.

"Os grandes exportadores do Brasil compram de pequenos produtores não certificados. Mas as exigências estão aumentando. Os europeus estão querendo ter certeza que toda a cadeia está cumprindo as normas. Nosso desafio é fazer a capacitação desses pequenos", afirma. Ele cita um dado que mostra a deficiência do País no que se refere à capacidade de vender seus produtos para os principais mercados mundiais: "Nós somos um dos cinco maiores produtores mundiais de frutas. Mas 97% da nossa produção é destinada ao mercado interno".

Moacyr Saraiva, presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Fruticultura, lembra ainda que outro problema dos exportadores está relacionado à logística. Para ele, o País tem condições satisfatórias de infra-estrutura portuária, mas falta organização, entre os produtores, para usá-la. "Acho que eles ainda agem de forma individualista. Na disputa pelo mercado externo, colocam muita mercadoria em oferta, o que acaba baixando o preço", avalia.

Para o diretor do Eurocentro Ceará (entidade ligada à Federação das Indústrias do Estado do Ceará - Fiec), Eduardo Bezerra, questões como essas, relacionadas diretamente com o setor produtivo de frutas e flores destinadas às vendas externas, são mais importantes que a cotação do dólar - que tem sido motivo freqüente de queixas de várias outras áreas exportadoras.

"O dólar vai continuar próximo de R$ 2. O que os produtores precisam é aumentar a eficiência, porque ainda temos muito a crescer", diz. Eduardo explica que, apesar do aumento de 22% previsto para esse ano no montante vendido - principalmente para Europa e Estados Unidos -, em relação a 2005, a participação do Ceará no mercado mundial ainda é muito pequena. "Nós devemos chegar a US$ 52 milhões até dezembro. Para você ter uma idéia, o Chile vende US$ 1 bilhão por ano", diz.

Mesmos problemas, mesmas soluções
Quem fizer um passeio pelos estandes da Frutal pode encontrar exemplos interessantes de como a tecnologia pode ajudar a enfrentar condições adversas de clima e solo. A empresa israelense, por exemplo, Netafin levou para o evento demonstrações de duas soluções desenvolvidas para aquele país que poderiam servir perfeitamente para os produtores locais, que também sofrem com o excesso de sol e falta de água.

A primeira, destinada a grandes propriedades, é um sistema que permite, através de sensores equipados com antenas de rádio, o acompanhamento da quantidade de água e fertilizante no solo, indicando ainda o tempo ideal para a colocação dos ingredientes. Os dados podem ser enviados até pela Internet e são atualizados a cada 15 minutos. Segundo Adolfo Moura, gerente regional da Netafin Brasil, existem 18 empresas no Brasil usando o sistema, sendo duas no Ceará e quatro no Rio Grande do Norte.

Outro recurso interessante é um kit, também desenvolvido pela empresa, capaz de irrigar uma área específica usando apenas uma caixa d´água elevada a um 1,5 metro do solo. A capacidade do sistema vai de 500 a 2.500 metros quadrados. "Ele é uma solução barata, porque irriga toda a área só com a diferença de pressão", diz Adolfo. (SM)

Caminho inverso
Gerânio, verbena, tajete, zínia e cravina . São algumas das espécies comercializadas pelo produtor Waldir Leite, proprietário de um viveiro no Eusébio. Ele afirma que, para melhorar a qualidade dos seus produtos, importa as sementes de várias flores tropicais, nativas do Brasil, de uma empresa holandesa instalada no Brasil.

"São plantas de clima quente, que existem aqui. Mas eu prefiro as sementes que vêm da Europa, melhoradas", explica. Os híbridos gerados pelo uso da tecnologia, segundo ele, resultam em plantas com mais precocidade da floração, corte menor e mais resistência. Waldir afirma que, depois de produzidas, as flores seguem o caminho inverso das sementes: além de Fortaleza, Mossoró e interior do Estado, elas também vão para São Paulo.
(Por Silvio Mauro, O Povo – CE, 14/09/2006)
http://www.opovo.com.br/opovo/ceara/

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