Negócios com rejeitos rendem milhões à Usiminas
2006-09-14
Para se produzir uma tonelada de aço, necessitam-se três toneladas de insumos, aí incluídos o
minério de ferro, o carvão e óleo para aquecimento de caldeiras. Como a siderúrgica Usiminas
produz 4,7 milhões de toneladas de aço por ano, a usina se transformara, até muito
recentemente, numa ilha cercada de imensas montanhas de rejeitos.
Caso fosse uma empresa, esse departamento estaria classificado como a 251 empresa mineira,
pelo critério de faturamento, num estado que sedia gigantescas companhias, como a própria
Usiminas, a Fiat Automóveis, a Cemig e o Grupo Arcelor-Mittal. Com os depósitos vazios, não
teremos o que vigiar"
A companhia mineira já vende 93% de todas as sobras do processo industrial. Um grupo de
resíduos é oriundo da destilação do carvão mineral para obtenção do coque. Os mais importantes
são o alcatrão (2,5 mil toneladas mensais), o piche (2 mil toneladas mensais) o naftaleno (150
toneladas) e a amônia (400 toneladas).
Os dois primeiros subprodutos são utilizados na fabricação de eletrodos para a obtenção de
alumínio e tem a Novelis e a Companhia Brasileira da Alumínio (CBA) como principais clientes,
ao preço médio de US$ 230 dólares por tonelada. O naftaleno é destinado às indústrias que
produzem a conhecida naftalina e pagam R$ 1,4 mil pela tonelada. A amônia é quase
integralmente destinada à fábrica de fertilizantes da Bunge, localizada em Araxá, no Triângulo
Mineiro, ao preço médio de R$ 1 mil por tonelada.
Na atividade siderúrgica, propriamente, são gerados 700 quilos de rejeitos por tonelada de
aço, entre os quais se destaca o resíduo de altos-fornos. Descobriu-se recentemente que o
material tem excelente uso na fabricação do cimento, onde é adicionado diretamente ao
clínquer, na proporção de 70% da mistura.
A Camargo Corrêa, uma das acionistas da empresa, assinou contrato para adquirir todo esse
subproduto, que totaliza 1,4 milhão de toneladas anuais ao preço de R$ 22 reais por tonelada.
Há alguns meses, o material é enviado em vagões paras as fábricas de cimento em Mesquita,
região metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo Ciodaro Filho, a Usiminas está muito empenhada na venda de outro importante resíduo
que é a escória de aciaria. Recentemente, os técnicos conseguiram moer esses verdadeiros
cascalhos em três tipos de areia. O mais fino é vendido por R$ 4 por tonelada, como lastro
ferroviário para Estrada de Ferro Vitória-Minas, subsidiária da Companhia. Vale do Rio Doce. O
rejeito de granulação média é adquirido pela fábrica de celulose Cenibra para ser utilizado
numa espécie de pavimentação em milhares de quilômetros de estradas vicinais que cortam seus
reflorestamentos em 48 municípios. A rodovia continua sendo de terra, porém com grande
resistência à chuva e à erosão.
Por último, a Usiminas lançará oficialmente na próxima semana o "agregado siderúrgico",
rejeito de aciaria de maior dimensão que será utilizado especialmente na pavimentação de
rodovias. O produto tem logomarca e foi certificado pelo Departamento de Estradas de Rodagens
de Minas. Segundo Ciodaro Filho, o material foi utilizado com sucesso como base e sub-base na
pavimentação de um trecho da BR-381.
Graças a esse imenso esforço desenvolvido nos últimos 12 meses, a Usiminas já conseguiu
comercializar 93% dos rejeitos industriais. Os últimos 7% são formados basicamente por um
produto que perdeu seu mercado mas, por ironia, foi o primeiro a ser comercializado, ainda em
tempos mais recuados. Trata-se do óxido de ferro, que é obtido no polimento das bobinas de
aço. "Ele era utilizado na produção de componentes eletrônicos dos aparelhos de televisão. Com
o advento da TV digital e do encolhimento dos aparelhos, o mercado desapareceu. Mas, haveremos
de encontrar novos compradores para o produto."
Por último, a empresa intensificou a venda, para terceiros, da produção da oficina de fundidos
e forjados, que atendia basicamente às necessidades da usina. Graça ao aproveitamento das
horas ociosas de seus equipamentos, a Usiminas produz 2,5 mil toneladas de lingotadeiras para
a siderúrgica Açominas, de propriedade do Grupo Gerdau, que ainda não dispõe de lingotamento
contínuo em suas instalações. A lingotadeira é uma peça de 25 toneladas, parecida a uma forma
de picolés, na qual é despejada o aço líquido.
A estimativa é de que, no próximo ano, a receita seja ainda maior, com o esperado acréscimo de
7% de rejeitos ainda sem mercado. E com a venda do que ainda resta das antigas montanhas -
hoje colinas - estocadas no passado.
(Por Durval Guimarães, Gazeta Mercantil, 14/09/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=13%2c0%2c1%2c203458%2cUIOU