Minas Gerais mantém fechados 18 parques estaduais
2006-09-14
Criados por decreto nos últimos 20 anos, 18 parques estaduais estão fechados em Minas Gerais. A lista está no site do Instituto Estadual de Florestas (IEF), órgão da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) responsável pela administração das unidades de conservação. A maioria tem problemas fundiários e falta de infra-estrutura, como portaria e alojamento, além de poucos funcionários para a fiscalização.
Um exemplo é o Parque Estadual do Sumidouro, criado em 1980, entre Lagoa Santa e Pedro Leopoldo, que até hoje não se tornou realidade. Sua implantação voltou a ser discutida no início deste ano, devido aos investimentos do governo do estado no desenvolvimento da região Norte da Grande BH. O parque é de grande importância arqueológica e hídrica – guarda várias cavernas, pinturas rupestres e um dos mais importantes aqüíferos do estado –, e sua implantação deve ocorrer em breve. O perímetro previsto está dentro da Área de Proteção Ambiental Carste de Lagoa Santa (APA), unidade federal, administrada pelo Ibama.
“Pelo menos, saímos da inércia. Com mais duas reuniões, vamos eleger o conselho consultivo. Há conflitos, interesses pessoais, uma série de questões. Criar um parque não é da noite para o dia. Leva tempo, e o mais importante é ter a comunidade do nosso lado. Afinal, é ela quem vai nos ajudar a proteger a unidade de conservação”, diz o gerente do Sumidouro, Roberto Alvarenga.
Uma nova rodada de debates está prevista para avaliar a importância da implantação do Sumidouro e também os mecanismos de desapropriação. As datas ainda não estão acertadas. “Estamos conversando com as prefeituras e representantes das comunidades. O governo, o IEF, ninguém faz nada sozinho. Precisamos do apoio da população”, diz Alvarenga.
No entanto, quem vive nas áreas delimitadas como sendo do parque, no bairro da Lapinha, em Lagoa Santa, e Fidalgo e Quinta do Sumidouro, distritos de Pedro Leopoldo, lamenta por não saber o que vai acontecer. A comerciante de Fidalgo, Marlene Trindade, de 46 anos, diz que a comunidade está assustada. “A maioria tem como ganha-pão a extração de pedra (Lagoa Santa) e pequenas hortas. Muitos não ligam, pois acham que não vai acontecer nada. Eu fico sabendo das reuniões porque sou comerciante, mas muita gente da comunidade nem sabe da história”, diz.
Para a presidente da ONG Gruta Lapinha Viva, Luci Rosa da Silva, a comunidade está alarmada. “Muitas famílias nasceram e cresceram aqui e não sabem, por exemplo, como serão as desapropriações. É fundamental a implantação do parque, para proteger esse tesouro e riqueza de biodiversidade que temos aqui, mas a comunidade tem que ser ouvida”, diz.
De acordo com o coordenador de Unidades de Conservação do IEF, José Medina, a maioria dos parques não-implantados no estado não tem plano de manejo, infra-estrutura básica, além de projeto de prevenção e combate a incêndio, caça e invasões. “Não temos recursos financeiros para gerenciar as atividades nas unidades. Temos tentado, por meio de nosso grupo técnico, sanar as dificuldades, trabalhando na elaboração dos planos de manejo de várias das unidades e na implantação dos conselhos consultivos”, garante. De acordo com o IEF, dos 18 parques fechados, 12 estão com os planos de manejo em andamento e três já os têm.
Veja a lista das unidades de conservação
Baleia – Criado em 6/7/1988, em Belo Horizonte. Abriga seis nascentes, usadas pela população do Aglomerado da Serra, maior favela da capital
Biribiri – Criado em 22/9/1998, em Diamantina (Central). Cerrado, campos rupestres e matas de galeria. Muitas espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará e a onça-parda
Campos Altos – Criado em 5/11/2004, em Campos Altos (Alto Paranaíba). Campos, cerrado e florestas, com peroba-rosa, jequitibá-rosa e jacarandá. Animais: porco-do-mato, veado-mateiro, paca e mutum
Sumidouro – Criado em 3/1/1980, em Lagoa Santa e Pedro Leopoldo (Grande BH). Patrimônio arqueológico, cultural e natural. Mata de galeria e cerrado. Raposa, veado-catingueiro. A Lagoa do Sumidouro tem grande importância hidrológica, com 15 quilômetros de perímetro
Grão Mogol – Criado em 22/9/1998, em Grão Mogol (Norte). Relevo montanhoso, cortado por chapadas. Campos de sempre-vivas e os vales dos rios do Bosque e Ventania são pontos marcantes
Lagoa do Cajueiro – Criado em 8/10/1998, em Matias Cardoso (Norte). Ilha do Cajueiro e planícies ligadas à calha do Rio São Francisco são destaque. Animais: anta, onça-pintada, sucuri, jacaré-do-papo-amarelo e tamanduá
Mata Seca – Criado em 20/12/2000, em Manga e Itacarambi (Norte). Formações vegetais distintas, entre os domínios de cerrado e caatinga
Pico do Itambé – Criado em 21/1/1998 em Santo Antônio do Itambé, Serro e Serra Azul de Minas (Central).Cachoeiras e nascentes de rios das bacias do Jequitinhonha e do Doce. Campos rupestres e cerrado, espécies endêmicas de orquídeas
Rio Corrente – Criado em 17/12/1998, em Açucena (Leste). Capoeiras e matas abrigam mais de 20 nascentes de ribeirões e córregos que compõem a bacia do Rio Doce. Animais: mutum-do-sudeste, capivara, jacu e raposa
Serra da Candonga – Criado em 17/12/1998, em Guanhães (Leste). Abriga nascentes e mata atlântica, com espécies como braúna, quaresmeira, canela, garopa e angico. Animais: macacos, quati, lontra, caititu, sabiá, trinca-ferro e curió
Serra das Araras – Criado em 21/1/1998, em Chapada Gaúcha (Norte). Destaque para os paredões, veredas, matas ciliares, nascentes e sítios geomorfológicos, que funcionam como habitat e criadouro natural da arara-vermelha e arara-canindé, ameaçadas de extinção
Serra do Cabral – Criado em 29/9/2005, em Buenópolis e Joaquim Felício (Central). Divisor de águas entre os rios das Velhas e Jequitaí, afluentes do Rio São Francisco. Sítios arqueológicos, com pinturas rupestres
Serra do Papagaio – Criado em 5/8/1998, em Aiuruoca, Alagoa, Baependi, Itamonte e Pouso Alto (Sul). Mata atlântica e nascentes de rios formadores da bacia do Rio Grande. Animais: onça-parda, muriqui, lobo-guará e papagaio-do-peito-roxo
Serra Negra – Criado em 22/9/1998, em Itamarandiba (Jequitinhonha). Flora: cedro, braúna, ipês, perobas, jacarandá, vinhático, canela-de-ema. Abriga nascentes das bacias dos rios Jequitinhonha e Araçuaí, além de alguns tributários do Rio Doce.
Serra Nova – Criado em 21/10/2003, em Rio Pardo de Minas (Norte). Topografia irregular, com grotas, morros e nascentes do Ribeirão São Gonçalo, dos rios Ventania, Suçuarana, Bomba, Ladim e do Córrego da Velha
Sete Salões – Criado em 22/9/1998, em Resplendor, Santa Rita do Itueto, Conselheiro Pena e Itueta (Leste). Mata atlântica, campos rupestres e florestas de candeias. Pico de Sete Salões (1.135m)
Verde Grande – Criado em 8/10/1998, em Matias Cardoso (Norte). Vegetação: floresta sub-perenifólia, floresta estacional decidual, caatinga arbórea e caatinga arbustiva
Veredas do Peruaçu – Criado em 27/9/1994, em Januária (Norte). Vegetação: caatinga, veredas, cerrado e matas ciliares do Rio Peruaçu. Fauna: mais de 250 pássaros catalogados
Fonte: Instituto Estadual de Florestas (IEF)
(Por Cristiana Andrade, Estado de Minas, 13/09/2006)
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