Abundância, densidade e tamanho populacional de aves e mamíferos cinegéticos no Parque Estadual Ilha do Cardoso, SP, Brasil
2006-09-14
Tipo de trabalho: Dissertação de Mestrado
Instituição: Unidade de Ecologia de Agrossistemas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP)
Ano: 2004
Autor: Christine Steiner São Bernardo
Contato: christinesteiner@yahoo.com
Resumo:
O principal objetivo desse trabalho foi obter o índice de abundância, a densidade e o tamanho populacional de mamíferos e aves cinegéticos (preferencialmente caçados) na Mata Atlântica do Parque Estadual Ilha do Cardoso (PEIC), através do método de transecções lineares. Mapas de ocorrência das espécies foram gerados, bem como foram testadas relações entre estrutura da vegetação e variáveis antrópicas com a abundância e ocorrência das espécies. Foram percorridos 273,05 km em 13 trilhas distribuídas por várias regiões do PEIC. Dentre as aves cinegéticas com maior densidade destacaram-se o uru Odontophorus capueira (26,7 indivíduos/ km2), tucanos Ramphastos spp. (8,9 indivíduos/ km2) e jacú Penelope spp. (3,2 indivíduos/ km2). Dentre os mamíferos cinegéticos, o bugio Alouatta guariba (8,9 indivíduos/ km2) e a cutia Dasyprocta leporina (3,4 indivíduos/ km2) apresentaram maior densidade. A jacutinga é uma espécie ameaçada de extinção no Brasil, com tamanho da população que varia entre 203 e 304 indivíduos. Esta é uma das aves caçadas ilegalmente no PEIC por caiçaras, índios Guarani Mbya e pessoas provenientes do entorno do parque, não havendo conhecimento de quantos animais são abatidos anualmente. Foi utilizado um tipo de análise de viabilidade de populações, sendo possível predizer a probabilidade de extinção, simulando-se diferentes cenários de caça no PEIC (ou seja, diferentes quantidades de jacutingas caçadas por ano). O cenário-base considerado teve como principais características uma baixa taxa de mortalidade anual (10%), capacidade suporte alta (1770 indivíduos) e população efetiva alta (64%). Neste cenário, classificado como otimista devido às características atribuídas, há probabilidade de jacutingas sofrerem extinção local quando mais de 20% dos animais forem abatidos por ano. Contudo, no cenário alternativo onde foi considerado uma capacidade suporte menor que a do cenário-base (177 indivíduos), o dobro da taxa de mortalidade anual do cenário-base ou uma população efetiva de 44%, a população de jacutingas só permanece na ilha se não houver caça. Ao ser considerado uma população efetiva de 24%, há probabilidade de extinção local mesmo se não houver caça, pois neste caso há tão poucos indivíduos aptos a reprodução, que até mesmo efeitos estocásticos (ao acaso) causam a extinção local. Em relação à disponibilidade de frutos, houve correlação entre biomassa de frutos e abundância de queixadas (Tayassu pecari) (Rs= 0,56, p= 0,05). Macucos (Tinamus solitarius) e catetos (Pecari tajacu) apresentaram maior abundância em locais com maior riqueza de frutos (R2= 43,2%, p= 0,01 e R2= 25,5%, p= 0,05, respectivamente). Através da análise de Regressão Logística, foi possível constatar que existiu cerca de duas vezes mais chances de mamíferos ocorrerem em locais com maior densidade de palmito juçara Euterpe edulis adulto e em lugares afastados de comunidades tradicionais da Ilha do Cardoso. Os resultados demonstraram a importância de se proteger áreas que ainda possuem alta densidade de palmitos juçara e grande produção e riqueza de frutos, pois são fatores que contribuem para a ocorrência e abundância de muitas espécies de aves e mamíferos cinegéticos. Além disso, este estudo forneceu embasamento empírico para a polêmica questão do possível impacto das populações humanas na biodiversidade, demonstrando-se que a presença de comunidades tradicionais em unidade de conservação de uso indireto influenciou a ocorrência de mamíferos cinegéticos.