O mundo esquenta e as dúvidas esfriam
2006-09-14
Existem poucas dúvidas de que a principal causa da mudança climática é a queima de combustíveis fosseis e que o fenômeno aumenta o poder e a freqüência de florações e ciclones, conforme alerta feito por 19 norte-americanos especialistas. A temperatura da superfície do mar aumentou por causa do aquecimento do planeta, provocando um radical aumento na força dos furacões nos últimos anos, segundo mais de uma dezena de estudos feitos desde que o furacão Katrina atingiu os Estados Unidos em agosto de 2005.
“Já não existe dúvida de que a intensidade dos furacões aumentou”, disse Kerry Emanuel, especialista em clima do Instituto de Tecnologia de Massachussetts, um importante centro de pesquisas dos Estados Unidos. “Assusta-me constatar que o poder de furacões e ciclones aumentou entre 50% e 100% desde os anos 70”, afirmou Emanuel, um dos 19 especialistas que divulgaram o informe sobre o assunto nesta segunda-feira nos Anais da Academia Nacional de Ciências (PNAS) dos Estados Unidos. A temperatura da superfície do mar nas regiões em volta do equador, onde têm origem furacões e ciclones, aumentaram 0,5 grau desde 1970. Essa elevação aparentemente pequena é o principal fator no aumento da intensidade das tempestades.
Também foi constatado que os furacões atualmente são mais sensíveis ao aumento da temperatura da superfície do mar do que se pensava, disse Emanuel à IPS. “Isso nos preocupa a todos”, acrescentou. A ligação entre o aquecimento do planeta e a potência dos furacões nos últimos 10 a 15 anos é objeto de grandes debates científicos, às vezes em termos duros. O governo dos Estados Unidos se apóia em informes de uma minoria dos cientistas para negar-se a assinar o Protocolo de Kyoto da Convenção Internacional sobre Mudança Climática, tratado que obriga as nações industrializadas a reduzir suas emissões de gases que causam o efeito estufa.
O estudo, publicado nos Anais, documenta um vínculo claro entre a elevação da temperatura e a dos furacões nas bacias dos oceanos Atlântico e Pacífico, onde estes se originam, e entre os dois fenômenos climáticos e a ação humana. O documento e outras pesquisas científicas recentes constatam a relação entre as alterações no clima induzidas pela ação humana e a temperatura da superfície marinha, acrescentou outro dos seus autores, Roberto Corell, da Sociedade Meteorológica dos Estados Unidos. “A quantidade de tempestades fortes, de categoria quatro e cinco, praticamente duplicaram nos últimos 35 anos”, disse Corell à IPS.
A força dos furacões é medida pela escala Saffir-Simpson, de um a cinco, que depende da velocidade dos ventos. A maioria dos furacões e ciclones nunca toca a terra. “A temperatura da superfície marinha nas regiões oceânicas onde nascem furacões e ciclones registra aumentos substanciais”, disse Corell. Estas altas afetaram vastas zonas do Atlântico, por isso aumentou a quantidade de furacões, bem como sua intensidade, disse o especialista em clima Greg Holland, diretor do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos.
Embora as variações naturais sejam um fator que incide na quantidade e intensidade destes fenômenos climáticos, as emissões de gases causadores do efeito estufam pela queima de combustível fóssil e a pelo desmatamento são a causa destas mudanças, segundo o estudo. Holland calcula que 70% das variações em furacões e ciclones são atribuíveis à mudança climática de origem humana. Os autores do informe usaram 22 modelos computadorizados, carregados com dados fornecidos por satélites e bóias sobre a temperatura da superfície marinha. Assim, determinaram que as emissões de gases que provocam o efeito estufa são a única explicação para o aumento registrado.
Os modelos computadorizados foram criados por vários centros de pesquisa sobre o clima de todo o mundo, mas, todos destacaram uma “excepcional correlação de que a mudança climática induzida por seres humanos era o único fator para obter os resultados da temperatura marinha” registrados, disse tom Wigley, cientista do Centro Nacional para a Pesquisa Atmosférica. Os especialistas expressam muita confiança nos modelos aplicados. “Há menos de 1% de possibilidades de a mudança na temperatura da superfície marinha ser resultado de fatores não humanos”, ressaltou. Os modelos indicam que a temperatura oceânica continuará aumentando. “O aumento atual é pequeno em comparação com o que veremos no futuro”, alertou.
Embora o aumento de 0,5 graus desde 1970 tenha ocasionado um aumento entre 50% e 100% na intensidade das tempestades, a dinâmica dos furacões é muito complexa para extrapolar as previsões de temperatura marinha ao futuro comportamento desses fenômenos, afirmou Emanuel. Quanto aos furacões, os Estados Unidos já têm um problema, afirmou. “A ameaça que representam deveria ser considerada mais seriamente”, disse. A agência federal para o manejo de catástrofes e de assistência às vítimas (Fema) e as companhias de seguro deveriam estar preparadas, concluiu Emanuel.
(Por Stephen Leahy, Envolverde, 13/06/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=22414&edt=1