Ministério Público investiga Reserva Biológica do Lami
2006-09-12
A promotora de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre, Anelise Steigleder, está investigando o
cumprimento do plano de manejo da Reserva Biológica do Lami, Zona Sul da Capital. O objetivo do
inquérito, aberto em fevereiro, também é verificar a legitimidade do plano, elaborado na
administração anterior.
A investigação partiu de denúncia do ex-gerente da reserva, Rodrigo Cambará, que alega ter
construído o plano de manejo em consenso com a comunidade do Lami. "Ele não está sendo cumprido
pela atual gerente. Numa decisão arbitrária, ela impediu os pescadores de navegarem numa área de
400 metros no entorno da reserva. Antes, a distância acordada era de 150 metros."
Para Cambará, há duas visões antagônicas de gestão ambiental em choque: a da antiga
administração, participativa; e a outra exclusivista, que vem sendo implantada pela gerente
atual. Segundo ele, promoveu-se um desmonte da reserva e reduziu-se a participação da comunidade,
impedindo as aulas do movimento de alfabetização de adultos que ocorriam na sede, à noite.
"Três abaixo-assinados pedem o afastamento da gerente", afirmou.
Cambará disse que a intenção da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smam) é anular o plano de
manejo, dizendo que ele estaria em desacordo com a legislação federal. "Tenho um parecer do
Ministério do Meio Ambiente que garante que o plano está dentro da lei", afirmou. Ele denuncia
ainda que a Smam contratou uma empresa para elaborar um novo plano, através de carta-convite,
sem licitação.
No dia 12 de setembro, uma audiência pública na reserva pretende rediscutir o plano de manejo.
A promotora Anelise pretende participar da reunião para, então, propor a possibilidade de
flexibilizar um pouco as restrições impostas pela atual administração. "Sinto que a comunidade
está insatisfeita com algumas ações, mas não vejo má-fé ou ilegalidade no que foi feito. São
apenas distorções de interpretação", argumentou.
Secretário defende medidas e promete diálogo
O secretário de Meio Ambiente, Beto Moesch, rebateu as críticas de Rodrigo Cambará e negou a
contradição de uma empresa elaboração de um novo plano de manejo para a reserva. Para ele, as
ações tomadas visam preservar a reserva. "Alguns pontos do plano não antedem às legislações
federal e estadual, por isso fizemos mudanças e vamos reavaliá-lo", afirmou.
Segundo Moesch, reserva biológica requer ações restritivas, permitindo apenas pesquisa e educação
ambiental. "Mantivemos a trilha de educação ambiental, os convênios com a Ufrgs e buscamos
outras universidades".
Moesch garantiu que a Smam vem qualificando a reserva, com a compra de carro, lanterna, barco
e rádios, além de capacitar os servidores e deter caçadores. Quando à restriçõa da área de
navegação, afirmou que foi uma decisão de consenso com a colônia de pescadores Z4. Disse ainda
que se existe resistência de alguma parte da comunidade, "a Smam está disposta a dialogar,
pensando sempre na preservação da reserva".
(Jornal do Comércio, 11/09/2006)
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