O ozônio na atmosfera e o coração na vida
2006-09-12
Marcelo Barros *
Esta semana começa com o quinto aniversário dos atos terroristas nos Estados Unidos e se encerra com o Dia Internacional de Defesa da Camada de Ozônio. A ONU, que instituiu o 16 de setembro como um dia para chamar a atenção dos governos e dos povos sobre a grave e urgente situação da camada de ozônio que protege a terra se surpreende com o fato de que, em poucos anos, este problema, antes quase restrito a especialistas, está se tornando assunto de amplo interesse.
A razão pode ser o fato de que, em vários lugares do mundo, constata-se um aumento de doenças provocadas pela exposição das pessoas aos raios ultravioletas do sol. Pais obrigam filhos a irem para a escola com a cabeça coberta e governos municipais vigiam praias e balneários para impedir que as pessoas se exponham ao sol em certas horas do dia.
De fato, a vida no planeta Terra precisa de que se mantenha o que resta da camada de ozônio, cortina de gaz situada entre 10 e 50 quilômetros de altura da superfície terrestre que funciona como filtro solar e protege todo ser vivo sobre a terra dos raios ultravioletas do sol. O ozônio é um gás cujas moléculas são compostas de três átomos de oxigênio. No nível do solo, é muito poluidor e perigoso. Entretanto, como cortina que cobre a atmosfera terrestre, protege o planeta dos raios ultravioleta do sol, que podem provocar diversas doenças nas pessoas, animais e mesmo nas plantações.
O que aconteceu é que, desde os anos 60, as geladeiras, aparelhos de ar-condicionado, produtos em formulação aerossol e vários produtos de uso doméstico e industrial utilizam um elemento químico (clorofluorcarbono) indissolúvel. O CFC reage à presença da radiação UV, ultravioleta, dividindo-se na altura da camada de ozônio onde a presença desse raios são constantes. Então o cloro reage ao ozônio (O3), dividindo-o e produzindo moléculas de monóxido de carbono (CO), e oxigênio (O2). Esse fenômeno causa a destruição na camada de ozônio, o que aumenta a entrada de raios UV na atmosfera causando problemas como o câncer de pele, catarata, diminuição do fitoplâncton e redução das colheitas.
Em 1987, diversos governos do mundo assinaram o Protocolo de Montreal, que se comprometia a substituir os produtos que usam este tipo de elemento químico por outros componentes que não causam esta destruição (elementos biodegradáveis). Depois da Conferência Mundial da Terra no Rio de Janeiro (Rio 92), vários governos assinaram o Protocolo de Kyoto, que se comprometia a diminuir em uma década em 12% as emissões de gases tóxicos jogados sobre a atmosfera. As mais recentes pesquisas confirmam que os países mais poluidores são os mais ricos e ditos "desenvolvidos". O governo dos EUA - onde pelo volume de consumo é maior a responsabilidade pela destruição da camada de ozônio- não aceitou assinar o protocolo de Kyoto. Segundo o presidente Bush isso prejudicaria os interesses econômicos do país.
Nesta semana, 5º aniversário dos atos terroristas nos Estados Unidos, o governo Bush e de seus aliados intensificam a propaganda -expressa e subliminarmente- de que a maior ameaça para a humanidade é o terrorismo. E uma coincidência intrigante deixa muita gente sem resposta: como a cada pesquisa de opinião (mais) desfavorável a Bush ou Blair, algum plano diabólico de terroristas carregando bombas líquidas em mamadeiras para explodir aviões é desmascarado por esses (auto-nomeados) paladinos do planeta. Renova-se, então, o endosso da sociedade para novas medidas repressivas e de restrição às liberdades civis.
Por abominável que seja - e é- nenhum ato terrorista, está desde agora destruindo milhares de espécies vivas e ameaçando o futuro da espécie humana e de toda a vida no planeta Terra. As empresas e governos que investem em um modelo de desenvolvimento predador da natureza e opressor da humanidade praticam uma forma de terrorismo estrutural. Cada vez mais parece evidente que o terrorismo dos grupos extremistas não será jamais vencido apenas com medidas de repressão e atos de guerra. No entanto, perderão suas bases e apelo se a sociedade internacional exigir dos governos uma política mais justa com relação aos países pobres que sempre foram vítimas da colonização.
A destruição da camada de ozônio e, por conseguinte, das condições de vida na Terra, nunca será detida apenas com medidas de força ou assinatura de protocolos diplomáticos. É necessário que se detenha o ritmo e o estilo deste desenvolvimento poluidor e que se descubram valores de convivência social e alegria na sobriedade e na valorização da vida própria e de todos os seres vivos. Medidas repressivas não bastam para impedir um novo 11 de setembro. Comemorar o 16 de setembro, dia da defesa da terra, da água e do ar sobre o planeta, será avançar no cuidado como vivemos o cotidiano e celebrar a vida no calendário humano e do coração.
* Monge beneditino e autor de 26 livros.
(Adital, 11/09/2006)