O mercado de madeira certificada, ainda tímido no Brasil, começa a ganhar corpo na construção civil, setor responsável pela maior parte do consumo de madeira amazônica. As construtoras paulistas Setin e Tecnum estão avaliando quais de seus atuais fornecedores trabalham com esse tipo de material para iniciar as compras ainda este ano.
A Setin, voltada para empreendimentos residenciais, comprou este ano 100 m3 de compensados para lajes e vigas este ano e pretende comprar de 300 a 500 m3 de madeira bruta certificada em 2007, para uso em andaimes e tábuas. O novo pedido será fechado em três meses. Em menos de um ano, a Setin pretende comprar portas, batentes e rodapés com selo verde, garantia de que ela foi retirada da floresta de forma legal e responsável. "Daqui a dez anos a madeira certificada será tão comum na construção quanto o dry wall, que há nove anos era raro", afirma o presidente e fundador da empresa, Antônio Setin.
Segundo ele, a companhia vai iniciar o consumo aos poucos, à medida que os funcionários se acostumem com o material e os fornecedores se adequem às exigências. Ele diz que além de um prazo mais demorado de entrega (cerca de 40 dias), algumas espécies como peroba, marfim e mogno não existem em abundância na "versão" certificada.
De acordo com Setin, o uso deste material está em linha com outras preocupações da empresa, como o reuso da água e o aproveitamento de energia solar em seus empreendimentos. Hoje, seis obras em andamento da Setin - com 1,2 mil apartamentos - têm estas características, o que equivale a metade das obras conduzidas pela empresa no momento.
Apesar da madeira bruta certificada ser 10% mais cara, a construtora não vai repassar o custo para o consumidor. "O comprador ainda não está disposto a pagar mais, mas percebe o valor deste diferencial", diz.
A Tecnum, que atua na área comercial e residencial em São Paulo há 16 anos, pretende iniciar as compras do material ainda este ano. O primeiro passo será verificar quais de seus atuais fornecedores já são certificados. O diretor de construção da Tecnum, Yorki Estefan, diz que o projeto ainda está em fase embrionária, mas que a empresa já fez um pedido para outubro de 4,5 mil metros quadrados de madeira para fôrmas.
Pioneira nesta área, a Takaoka conclui este mês um dos primeiros projetos com este material no loteamento Gênesis II, em Alphaville, em parceria com a Gafisa. No final do primeiro semestre de 2007, a empresa vai iniciar um projeto residencial semelhante em Porto Alegre (RS), com cerca de 200 m3 de madeira certificada. Como o projeto ainda não foi aprovado, a empresa não revela mais detalhes. Segundo Marcelo Takaoka, presidente, o uso do material certificado é um processo irreversível na construção de alto padrão. "O mercado é muito competitivo e nenhuma construtora vai querer perder pontos com o consumidor", diz.
A Método Engenharia, que faz projetos completos para hotéis, incluindo mobília e decoração, têm dado preferência para móveis certificados, segundo seu sócio fundador Hugo Marques da Rosa. "Um dos nossos critérios para cadastrar nossos fornecedores é a origem da madeira", diz.
A longo prazo, o novo comportamento das construtoras pode mudar o perfil exportador do país na área de madeira certificada. Estima-se que mais de 80% da produção nacional de madeira com selo verde é vendida para países europeus, apesar de o Brasil ser o sexto maior produtor mundial, com uma área de 3,6 milhões de hectares de florestas certificadas com o selo FSC (sigla para Forest Stewardship Council, entidade certificadora fundada há 13 anos no Canadá, com sede na Alemanha). O motivo é o interesse restrito no mercado interno, onde apenas o setor moveleiro tem utilizado o material, como a Etel Carmona e a rede Tok Stok.
A fabricante de madeira certificada Ecolog, com 30 mil hectares de florestas em Rondônia, diz que os projetos de construção envolvem volumes grandes, o que pode ter um impacto positivo em seus negócios, hoje voltados para exportação. Segundo o presidente da Ecolog, Fábio de Albuquerque, sua empresa destina apenas 10 m³ por mês para o mercado interno.
Além do maior interesse, dois outros fatores podem estimular o mercado interno. Um deles é a queda das exportações, devido à desvalorização do dólar. O outro é o aumento das áreas certificadas. "Em janeiro de 2003, existiam apenas 1,3 milhão de hectares certificados. Hoje são quase 4 milhões", diz Karla Aharonian, gerente da EcoLeo, loja do grupo Leo Madeiras, especializada no produto.
(Por Natalia Gómez,
Valor Econômico, 13/09/2006)