A AmBev , líder na fabricação de cervejas no Brasil, passará a utilizar, ainda este mês, casca de arroz como fonte de energia em sua fábrica localizada no município de Viamão, no Rio Grande do Sul. Segundo a empresa, a energia gerada com a casca deverá aquecer as caldeiras da fábrica. Inicialmente, serão utilizadas de 3 mil a 3, 5 mil toneladas ao mês de casca de arroz, que será adquirida de indústrias locais e dos municípios de Camaquã e Eldorado do Sul. Atualmente, a fábrica já usa gordura animal no aquecimento das caldeiras que respondem pelo aquecimento de água e geração de vapor para a higienização da fábrica.
O Rio Grande do Sul, como maior produtor nacional de arroz, tem grande disponibilidade da casca do produto. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul , Élio Coradini, a produção de arroz no estado é de cerca de 6 milhões de toneladas ao ano e 22% desse total corresponde ao volume de produção de casca. “Este ano, o estado terá 1,2 milhão de toneladas de casca de arroz para ser utilizada como biomassa de energia”, afirma Coradini. O Brasil produz anualmente 11,58 milhões de toneladas do grão.
Após a queima, a casca de arroz tem grande concentração de cinza, ideal para produção de cimento e adubo.
“O potencial da casca já vem sendo explorado e deverá trazer resultados no médio e longo prazo para o produtor de arroz”, diz Coradini. Segundo ele, a previsão é que se inaugurem quatro usinas de energia no estado, nos próximos anos, que utilizarão exclusivamente casca de arroz como biomassa de energia.
“O poder calorífico da casca de arroz é maior que o da lenha”, afirma o presidente da entidade. Segundo a assessoria de imprensa da AmBev, o material apresenta o teor calorífico necessário e atende à relação custo-benefício definido pela empresa.
A companhia já utiliza biomassa em suas unidades no País, como Agudos (SP), Lajes (SC), Teresina (PI) e Cuiabá (MT), entre outras. A utilização de biomassa começou na AmBev em 1997, mas essa é a primeira unidade a adotar a casca de arroz. A AmBev é a 5ª maior cervejaria do mundo e produz 10 bilhões de litros de bebidas por ano. A empresa tem 33 unidades de produção no Brasil; duas de insumos e uma maltaria.
Para o presidente do sindicato gaúcho, nesse primeiro momento, a utilização da casca do arroz como biomassa irá trazer benefícios ecológicos. “Até agora, as cascas eram estocadas sem um fim específico, o que gerava despesas.Hoje, o produtor de arroz sabe que a casca terá seu uso ampliado em breve e, por isso, já faz estoques”, afirma Coradini, sem revelar volumes.
Créditos de carbono
Além da geração de energia térmica, a queima da casca de arroz pode gerar também energia elétrica, que se converte em créditos de carbono, tornando-se assim mais um incentivo à utilização do resíduo. Até agosto, nove projetos brasileiros para a geração de créditos a partir da casca de arroz foram protocolados na Organização das Nações Unidas (ONU).
O projeto pioneiro é da fábrica da Camil Alimentos no município de Itaqui (RS) e é o único já registrado pela entidade internacional. Os oito projetos restantes estão em fase de aprovação.
A empresa já faturou 1,5 milhão de euros com os créditos gerados. A Camil já solicitou registro para seu segundo projeto de geração de energia a partir da casca do arroz, para a planta de Camacuã (RS), como já adiantou o DCI.
A Josapar , fabricante do arroz Tio João, também protocolou dois projetos com a mesma finalidade no Rio Grande do Sul. O estado é a sede de oito dos nove projetos do setor entregues à ONU. O único projeto fora do Rio Grande do Sul fica em Sinop (MT). Segundo a ONU, os nove projetos de casca de arroz já apresentados pelo Brasil são capazes de gerar, somados, 676 mil toneladas de crédito de carbono ao ano.
(Por Luiz Silveira e Rita Gallo,
DCI – Diário Comércio, Indústria e Serviços, 12/09/2006)