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2006-09-13
Tipo de trabalho: Dissertação de Mestrado

Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP)

Ano: 2002

Autor: Simone Raquel Batista Ferreira
Contato: sibatista@click21.com.br

Resumo:

Até meados do século XX, a região fronteiriça entre o Espírito Santo e a Bahia era predominantemente ocupada por comunidades camponesas, caboclas, pescadoras e quilombolas que tiravam seu sustento do uso extrativista do meio natural. Aqui, a rica floresta tropical atlântica, agrupando mata densa nos terrenos sedimentares terciários e áreas alagadiças nas planícies de inundação dos rios, apresentava a fartura suficiente para suprir estas comunidades de água, peixe, carne, frutos, madeira, ervas e raízes medicinais. A fartura estendia-se à terra: no “sertão” de Itaúnas, a “terra era a rola” e apropriada pelas posses que passavam de pai para filho. Esta situação favorecia o uso comunal dos recursos oferecidos pela floresta e assim concretizava o território das comunidades. A partir da década de 1950, as áreas da floresta passam a adquirir valor comercial. O crescimento urbano-industrial do centro-sul do país tem fome de madeira, que começa a ser saciada pela exuberância da Mata Atlântica do norte capixaba. Em meados da década de 1970, as terras que ainda apresentavam exemplares da floresta concentravam-se no município litorâneo de Conceição da Barra e, a partir de então, passam a ser inseridas no projeto estatal de plantio de eucalipto para produção de celulose do II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974). A implantação das monoculturas da Aracruz Celulose nesta região a partir de 1974 traz a transformação no uso da terra, incentivada e legitimada pelo Estado através de legislações específicas, e impõe uma nova lógica de apropriação do espaço, ditada pela propriedade privada, pelo uso restrito, pela acumulação e pelo lucro. Junto dela, o manejo extremamente impactante, com o plantio em nascentes e zonas de recarga hídrica, a retirada de matas ciliares, a exploração da areia e argila encontradas no fundo das antigas lagoas e agora utilizadas na manutenção das estradas, a capina e o controle químico de pragas com elevadas doses de agrotóxicos e herbicidas. Danificando o meio natural, a nova situação passa a desestruturar o modo de vida das comunidades locais, outrora estruturado numa forma de manejo que mantinha os ciclos reprodutivos da vida. A investigação destas histórias de vida tomou corpo coletivo no Movimento Alerta contra o Deserto Verde, formado por entidades e ONGs do Espírito Santo e sul da Bahia em meados de 1999 e que tem como prática o questionamento político do projeto celulósico aí implantado. O Deserto Verde vem estimulando a discussão dos problemas trazidos pela agroindústria de celulose às comunidades locais e tem contribuído com algumas conquistas, como a lei estadual que determina o zoneamento agroecológico do Espírito Santo e outras recentes leis municipais que proíbem o plantio do eucalipto para a produção de celulose.

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