CULTURA, DINHEIRO E QUESTÕES POLÍTICAS CONTRIBUEM PARA ATRASO
2001-10-11
O aspecto cultural também precisa ser considerado na busca por melhorias no sistema de saneamento. -Em municípios menores, principalmente, há pessoas que não bebem água tratada da rede de abastecimento. Ficam desconfiadas de ver o cloro em suspensão na água e preferem continuar bebendo água do poço, ilustra José Boaventura Teixeira, consultor técnico e educador da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Para ele, o risco que se corre ao decidir pela água do poço muitas vezes é desconhecido. Um exemplo típico foi verificado em São Sebastião, cidade satélite de Brasília. Com o solo muito permeável e a má qualidade das fossas utilizadas pela população, muitos poços artesianos usados no abastecimento da cidade acabaram contaminados por coliformes. No RS um fato idêntico. Um levantamento da Companhia Municipal de Saneamento de Novo Hamburgo (Comusa), em 209 poços, confirmou a presença de coliformes fecais em 156 amostras de água coletada - 75% dos poços analisados. Com isso o Departamento de Vigilância em Saúde está intensificando a fiscalização dos cerca de 20 mil poços artesianos existentes no município. Segundo dados do estudo RS 100% Água, feito pela Associação Gaúcha de Empresas de Obras de Saneamento (AGEOS), em torno de 2 milhões de gaúchos consomem água sem controle de qualidade. Esse percentual da população vive em pequenos municípios - que não são abastecidos pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e nem possuem sistemas municipais devidamente estruturados - e na área rural. O esgoto sanitário também enfrenta resistências por parte da população. Um caso emblemático acontece em Gravataí e Cachoeirinha na região metropolitana de Porto Alegre. Num investimento de US$ 70 milhões do Programa de Gerenciamento Ambiental da Bacia do Guaíba (Pró-Guaíba), foi construída uma estação de tratamento de esgoto para 24 mil residências das duas cidades. Hoje, dois anos depois da conclusão da obra, a maioria das casas ainda não estão ligadas à rede. Além de cultural, o motivo é econômico. Os moradores teriam que arcar com uma nova taxa, a do tratamento de esgoto. Um acréscimo de aproximadamente 50% nas contas de água da população. Para contornar o problema, o Pró-Guaíba contratou 15 educadores ambientais. Eles estão visitando as residências, com a finalidade de esclarecer as pessoas da importância do tratamento de esgoto. Com isso espera-se concluir as ligações á rede da nova estação até julho do ano que vem.