De um lado, a proibição internacional para a pesca comercial da baleia. De outro, mercados como o do Japão, em que a demanda pelo produto é alta. Para conseguir satisfazer o consumo interno, os japoneses usam toda a sua cota científica, que costuma ser insuficiente. Nesse exemplo polêmico, a genética tem importante papel.
“O campo de aplicação da genética dos organismos marinhos é muito grande. Um dos exemplos é o caso das baleias do Pacífico”, disse Antonio Mateo Solé-Clava, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), à Agência FAPESP. O biólogo participou da mesa-redonda “Genética da conservação”, realizada durante o 52º Congresso Brasileiro de Genética, em Florianópolis.
O que as análises genéticas conseguiram descobrir, no caso das baleias, é que o Japão estava sendo ajudado pela Coréia do Sul, o que não é permitido. A pesca para fins científicos é permitida, mas um país não pode usar a cota de outro, como ocorreu no exemplo na Ásia. “A genética foi a ferramenta que desvendou essa fraude internacional”, disse Solé-Clava.
Também em águas brasileiras contribuições importantes têm sido dadas pela genética. Dessas, vários exemplos passaram pelas bancadas do laboratório da UFRJ, como no caso das corvinas.
Durante anos, geneticistas e biólogos pesqueiros discutiram se entre o Sudeste e o Sul do país haveria apenas uma única ou mais de uma população de corvina. O veredicto, totalmente subsidiado pela genética, surgiu apenas recentemente.
“Hoje, sabemos que são dois estoques diferentes de corvina. Talvez sejam até três, mas isso ainda não está confirmado”, disse Solé-Clava. Segundo o pesquisador, informações como essa são essenciais para órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A partir da definição dos estoques é que poderá ser definido o manejo da espécie e, conseqüentemente, sua conservação.
Com base em exemplos retirados de grupos marinhos específicos, Solé-Clava não tem dúvida de qual deve ser a postura dos geneticistas em relação aos oceanos, principalmente o Atlântico, no caso brasileiro. “Precisamos olhar para o ambiente como um todo e termos preocupação com todas as dimensões, representadas pela filogenia (passado), ecologia (presente) e evolução (futuro)”, disse.
(Por Eduardo Geraque,
Agência Fapesp,06/09/2006)