Entrevista: Cometi crime biológico
2006-09-11
Desde a descoberta da vassoura-de-bruxa, em 1989, havia a suspeita de que a disseminação fora criminosa. A autodenúncia do técnico em Administração Luiz Franco Timóteo, porém, foi registrada apenas em setembro de 2005. Em entrevista ao Estado, Timóteo disse que trouxe a praga para o Estado a mando de políticos e funcionários da Ceplac, para fortalecer o órgão e reduzir o poder dos produtores. O caso está sendo investigado pela Polícia Federal e Ministério Público Estadual. A Assembléia Legislativa da Bahia também instaurou, na semana passada, a CPI do Cacau, com duração até 1º de outubro.
Por que esperar tanto tempo para fazer essa denúncia?
Eu já havia tentado denunciar antes, mas sempre recebia ameaças, pois as pessoas envolvidas estão em cargos políticos ou na diretoria da Ceplac. No ano passado criei coragem.
E por que você quis denunciar?
Porque estou arrependido do que fiz. A região onde morei, onde minha família ainda mora, está destruída. Os responsáveis devem ser punidos.
Mesmo que essa punição o inclua?
Estou pronto para isso. Cometi um crime biológico e pago por isso. Mas quero que todos sejam punidos comigo.
Algumas pessoas que você acusa são políticos e você reforça que eles eram militantes do PT. Uma denúncia agora não tem intenções eleitoreiras?
Não. Se fosse para atrapalhar a eleição de alguém, eu já teria denunciado antes. Na época eu era ligado ao PDT, mas hoje não tenho ligação com partido algum.
Alguns estudos dizem que sua versão, de ter trazido pessoalmente a vassoura-de-bruxa da Amazônia, é cientificamente improvável. Há apenas duas espécies do fungo na Bahia, enquanto na Amazônia há milhares.
Mas esses estudos não sabem como foram minhas viagens. Eu buscava os fungos sempre nos mesmos lugares, na mesma fazenda.
Você sabia que a vassoura causaria este estrago?
Não, achei que seria um susto. Achei que a Ceplac iria controlar o fungo e depois posar de heroína.
Quanto você ganhou com a operação?
US$ 20 mil, mas esse dinheiro foi pra sumir da região.
(O Estado de S. Paulo, 10/09/2006)
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