Índios de aldeias guarani e tupiniquim na região de Aracruz (ES), 92 km ao
norte de Vitória, voltaram hoje a invadir terras da Aracruz Celulose para
derrubar eucaliptos.
Cerca de cem indígenas participaram da ação. Segundo a Polícia Militar e a
Aracruz, 25 deles estavam munidos com motosserras, e cerca de 500 árvores de duas áreas de manejo da empresa foram derrubadas.
Ação começou às 10h e durou cerca de seis horas. De ontem para hoje, cerca de 2.500 eucaliptos foram postos abaixo.
Os índios protestam contra o que consideram demora no processo de demarcação de uma área de 11 mil hectares que hoje está em poder da Aracruz.
Eles argumentam que estudo antropológico feito pela Funai (Fundação Nacional do Índio) em 1997 atesta que a área pertencia a seus ancestrais.
Foi distribuída uma nota pública, assinada pela "Rede Alerta contra o
Deserto Verde - ES". "Os índios Tupiniquim e Guarani estão neste momento realizando uma derrubada de eucaliptos na área que lhes pertence tradicionalmente. Com essa ação, as comunidades indígenas querem cobrar da Funai e do Ministério da Justiça a demarcação de 11.009 ha", diz um trecho da nota.
Está nas mãos do presidente da Funai em Brasília, Mércio Pereira, um parecer da Procuradoria Geral da fundação em favor dos índios, que tem de ser enviado ao Ministério da Justiça para que tenha andamento o processo que vai decidir pela demarcação ou não da área.
Em nota divulgada no final do mês passado, a direção da Aracruz Celulose
contestou o resultado apresentado no parecer.
"A contestação da Aracruz apresenta documentos que resgatam a história do uso do solo na região nas décadas de 50 e 60, comprovando que as áreas
encontravam-se, na ocasião, desmatadas por ciclos econômicos, como café e madeira, e sem vestígio de aldeias tradicionais na região de Aracruz", dizia a nota.
Contra as ações atuais dos índios, a empresa registrou na delegacia em
Aracruz uma queixa-crime. "Os índios estão exercendo verdadeiro poder de
polícia por aqui, sem que o poder público faça nada", declarou Marcelo
Ambrogi, gerente regional florestal da Aracruz.
A assessoria de imprensa da Funai informou que o caso está em análise pela
presidência do órgão e que o remeterá ao Ministério da Justiça "tão logo" a
avaliação seja concluída.
(
Folha Online,08/09/2006)