Enquanto a abundância de recursos naturais - hídricos, florestais e fauna - preponderava em
tempos remotos, a inconsciência e, paralelamente, o esgotamento desses recursos foram
desmedidos. Quiçá, poder-se-ia fundamentar o fato na própria chancela de políticas estatais a
fim de eliminar a ociosidade nas propriedades rurais.
A propulsão econômica no setor agrícola remonta ao Império, a diplomas legais ordinários e
mesmo constitucionais, muito embora com atenção diluída e causal sobre o meio ambiente rural,
quando tudo prosseguia numa perspectiva economicista com ápice nos anos 60 - processo de
industrialização e transformação nos métodos de exploração agrícola. A degradação ambiental no
meio rural alcançou índices alarmantes, clamando por diretrizes dinâmicas em prol da
sustentabilidade na exploração agrícola. Desta maneira, um ponto de alta tensão se coloca
neste momento: de um lado o direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado;
de outro, a necessidade de desenvolvimento da economia pela produção agrícola.
O processo produtivo agrícola moderno - agronegócio ou agribusiness -, como conduzido por
muitos, vem minando seu próprio bem ambiental de produção de riquezas, a propriedade rural no
espectro da empresa agrária. A perseguição de maiores extensões de áreas agricultáveis conduz
a derrubadas de florestas, eliminação de mananciais e extinção de espécies animais e vegetais
do campo, bem como ao uso irracional de insumos em nome do desenvolvimento e expansão
econômica, que se torna o manto protetor de justificação da degradação ambiental no setor.
Persegue-se o reconhecimento da função ambiental da propriedade rural como uma pretensão
institucional de instrumento promotor efetivo de minimização da degradação ambiental
concretizando um desenvolvimento agrícola sustentável.
Por assim ser, a utilização desmedida de tecnologias, sob o prisma de um foco empresarial de
alta produção no setor, cada vez mais deflagra a realidade antidemocrática do sistema. Logo, a
função social (índices econômicos de produção) e a função ambiental (equilíbrio ambiental) da
propriedade rural devem conciliar-se a fim de eliminar esta tensão e forçar o capitalismo a
uma ética, ainda que mínima, de utilização dos bens ambientais, sobretudo, nas propriedades
rurais de um país eminentemente agrícola.
(Por Michel Werlang, advogado,
Zero
Hora, 06/09/2006)