Muita gente confunde queimadas com incêndios florestais. Mas são dois
incidentes diferentes. Queimada é quando um fazendeiro usa o fogo para
limpar o terreno, renovando o pasto ou a terra para o plantio. Já um
incêndio florestal é o fogo que destrói uma floresta. Muitas vezes, as
queimadas saem do controle e invadem áreas de floresta vizinhas, dando
origem a incêndios florestais.
De acordo com Ronaldo Viana Soares, professor do Departamento de
Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o
incêndio florestal se propaga de maneira descontrolada. "Normalmente
ocorre com freqüência e intensidade nos períodos de estiagem", diz. "Ele
está diretamente relacionado com a redução da umidade ambiental." Já a
queimada controlada é realizada com o objetivo específico de manejo de
solo ou pastagem ou na preparação do terreno para reflorestamento.
As queimadas são permitidas em algumas circunstâncias. "Do ponto de
vista da lei, é legal realizar a queimada em uma determinada região,
desde que solicitada aos órgãos de meio ambiente e dentro de alguns
critérios para que não se perca o controle do fogo", explica Heloiso
Bueno Figueiredo, chefe do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos
Incêndios Florestais (Prevfogo). A autorização da queima controlada pode
ser obtida junto ao IBAMA, ou órgãos autorizados por ele.
O homem é o fator principal
Os incêndios podem se iniciar de forma espontânea. Mas a maior parte dos
casos são mesmo provocados por alguém, por acidente ou de propósito.
Estima-se que 93% das ocorrências são causadas pelo homem, devido à
perda do controle das queimadas para "limpeza" do solo, descuido com
pequenas fogueiras feitas em acampamentos e fagulhas de máquinas, entre
outros. Grande parte dos incêndios florestais são criados de propósito,
por fazendeiros ou donos de terra, que querem destruir a floresta em seu
terreno. Fazem isso para que a mata não se regenere e o solo possa ser
usado para outros fins.
Boa parte dos assentamentos promovidos pelo Incra são feitos em áreas
cobertas por florestas. O processo natural dos agricultores, sem
assessoria técnica, é simplesmente cortar a madeira que tem algum valor
e botar fogo no resto da floresta. O processo de ocupação por meio de
projetos de assentamentos agrícolas facilitou a penetração da população
em áreas rurais. "O próprio INCRA foi um dos incentivadores", diz
Figueiredo. Começou, então, segundo ele, a haver um adensamento
populacional que fragilizava as regiões florestais, diminuindo a umidade
dessas áreas. Com o "enfraquecimento" das florestas, a possibilidade de
ocorrência de incêndios florestais aumentou. De acordo com Figueiredo,
as organizações governamentais não davam condições mínimas para a
população desenvolver uma agricultura que dispensasse o uso do fogo e
fosse ecologicamente compatível com o local dos assentamentos.
"É preciso combater o uso do fogo ou fazê-lo de forma controlada para
contornar esse problema", afirma Heloiso Bueno Figueiredo. "Além de
técnicas alternativas para as queimadas, precisamos que o governo
invista na área para que a população tenha acesso às informações e
altere essa cultura de queimadas". Para o professor Ronaldo Viana
Soares, a educação ambiental realizada através de campanhas é a melhor
saída para conscientizar a população dos riscos que as intervenções
humanas podem causar ao ambiente.
Causas
- ataque proposital à floresta, feito por fazendeiros que pretendem
impedir a regeneração natural de um trecho de mata em sua propriedade;
- imprudência e descuido de caçadores, mateiros ou pescadores, com a
propagação de pequenas fogueiras, feitas em acampamentos;
- fagulhas provenientes de locomotivas ou de outras máquinas
automotoras, consumidoras de carvão ou lenha;
- perda de controle de queimadas, realizadas para "limpeza" de campos;
- incendiários e/ou piromaníacos;
- causas naturais, como raios, concentração de raios solares por pedaços
de quartzo ou cacos de vidros em forma de lente;
Conseqüências
Danos materiais: destruição das árvores, redução da fertilidade do solo
e da resistência das árvores ao ataque de pragas.
- Danos ambientais: redução da biodiversidade, alterações dos biótipos,
facilitação dos processos erosivos e redução da proteção dos olhos
d´água e nascentes.
- Danos humanos: mortes, desabrigados e desalojados e redução das
oportunidades de trabalho relacionada ao manejo florestal.
(Por Graziela Salomão e Márcio Orsolini,
Época, 04/09/2006)