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2006-09-06
Apontado por seus concorrentes internacionais como um produto de alto impacto social e ambiental, o algodão brasileiro terá a chance de iniciar uma mudança da má imagem na próxima semana.

Pela primeira vez realizada no Brasil, a conferência plenária do Comitê Consultor Internacional do Algodão (ICAC, na sigla em inglês), que reunirá especialistas de 55 países em Goiânia (GO), será usada pelos produtores e industriais como vitrine para mostrar um sistema profissional, competitivo e moderno. "Vamos mostrar ao mundo que estamos preocupados e avançando nestas questões", afirmou o presidente do comitê organizador do evento, Paulo da Cunha Peixoto, ao Valor. "Temos problemas ambientais e sociais, mas quem não tem?" Os produtores brasileiros têm enfrentado acusações de usar trabalho escravo e mão-de-obra infantil nas lavouras de algodão, além de depredar o meio ambiente em áreas de cerrado e floresta amazônica. "Nossa produção está localizada no centro-sul de Mato Grosso para baixo. Não desmatamos para plantar. E usamos máquinas caras e modernas para colher a produção".

Apesar da defesa nessas áreas, os produtores brasileiros estão preparados para enfrentar acusações de pirataria de sementes transgênicas. Com apenas uma variedade autorizada no país, produtores de vários estados optaram por utilizar materiais ainda proibidos no país para reduzir os custos de produção. A resposta está na burocracia do governo brasileiro. "Vivemos o pior dos mundos. O governo não decide, não fiscaliza, não permite pesquisas e ainda deixa importar o mesmo algodão transgênico que aqui ainda é proibido", disse Peixoto, também diretor-executivo do Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão em Goiás (Fialgo). Segundo ele, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) sofre com um processo de "ideologização" e de oposição de "ambientalistas" contrários aos transgênicos.

No mercado interno, os produtores finalizam os planos para o plantio da safra 2006/07. A forte demanda da China e a elevação dos preços do algodão em função da retração de 27% no ciclo anterior compõem um cenário positivo. "Mas isso pode ser modificado se houver uma migração muito expressiva da soja para o algodão", alertou Peixoto. A preocupação está baseada na informação de uma eventual migração de produtores de soja de Mato Grosso para a fibra. "Pelo menos 1 milhão de hectares de soja deixarão de ser plantados. Se 20% disso vier para o algodão, pode haver mudanças nas cotações", avaliou. Na Bahia e em Goiás a área plantada terá aumento de até 15%.
(Valor Econômico, 06/09/2006)
www.valoronline.com.br

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