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2006-09-06
Os moradores da Barra Nova realizaram segunda-feira à tarde (04/09) uma passeata pela Estrada da Barra. O motivo foi alertar a comunidade sobre a retirada de aproximadamente 200 famílias do local, onde deverá ser implantado um terminal de celulose. Mulheres, crianças e pescadores participaram do ato, munidos de cartazes e até um barco. Eles entregaram panfletos ao caminhoneiros e demais motoristas que passavam pelo local. Os manifestantes saíram do Tecon e caminharam até a Via 1. Durante todo o trajeto eles foram acompanhados pela Polícia Rodoviária Federal.

"A maioria das famílias vive e depende do setor pesqueiro por isso não queremos deixar este lugar que conta com diversos trapiches. A maioria mora no local há mais de 30 anos e já têm direito adquirido", diz a presidente do Núcleo de Resistência dos Habitantes e Pescadores Nativos da Barra Nova, Nilza Fonseca. Ela conta ainda que os moradores estão se reunindo para discutir melhor o assunto. "Muitas reuniões foram feitas ano passado e início deste ano com a Prefeitura. Os órgãos públicos não nos deram escolha, somente nos comunicaram que teríamos que sair. Mas nós temos como provar, através de contas de água e luz, que moramos na Barra Nova já faz um tempo", argumenta. "Além disso, de uns tempos para cá, ninguém mais se posicionou sobre o assunto e fomos surpreendidos com a colocação de arame farpado, cercando nossas casas. Nós temos direitos e estamos lutando por eles", completa. Os moradores que não querem deixar o bairro estão realizando um abaixo-assinado que deverá ser entregue à Superintendência do Porto do Rio Grande (Suprg).

Durante a passeata, crianças carregavam cartazes com desenhos de peixes, além de diversas mensagens, mostrando que a Barra Nova é um local para turismo e a praticagem da pesca, gerando centenas de empregos. Pescadores carregaram um barco, simbolizando a necessidade de a comunidade continuar no local. "Todos aqui sobrevivem com o dinheiro que a pesca nos proporciona", diz Nilza. Além disso, panfletos sobre os desertos verdes das empresas de celulose eram distribuídos entre os motoristas, enquanto os demais manifestantes gritavam palavras de ordem: "Sim à pesca; não à celulose". A passeata contou ainda com o apoio do Movimento Alerta Contra Desertos Verdes e Pólos de Celulose na Metade Sul, que são contra a implantação da empresa de celulose que pretende se instalar na Zona Sul do Estado. "A Barra Nova possui diversos problemas de ordem pública, mas não será por isso que deixaremos tal lugar. Nós não concordamos com o posicionamento da Prefeitura e da Suprg, que nos tratam como invasores de terra. Por que ninguém reivindicou este lugar antes?", questiona a líder do núcleo.

Em reuniões anteriores, o Executivo comunicou aos moradores que, no novo loval, eles contariam com infra-estrutura como posto de saúde, escola, espaço de lazer entre outras reivindicações da comunidade. Falaram também que os moradores seriam retirados da Barra Nova e transferidos para a 4ª Secção da Barra. "O problema é que a área prometida foi invadida recentemente. Para onde irão nos levar? Nós dependemos da pesca", conclui Nilza. A Barra Nova possui 47 embarcações e 18 trapiches, gerando aproximadamente 300 empregos diretos e mais 300 indiretos. Nos barcos trabalham, com carteira assinada, 350 pescadores além das pessoas que consertam as redes.

SUPRG
Segundo o superintendente do Porto do Rio Grande, Vidal Áureo Mendonça, a cerca de arame farpado foi colocada para evitar novas invasões. "A Suprg está demarcando a área na Barra Nova com o objetivo de controlar as ocupações, impedindo invasões de famílias que não foram cadastras", diz. Mendonça fala ainda que todas as pessoas cadastradas pela Prefeitura terão direito a um terreno, regularizado, na Barra Velha. "Nós realizamos, em parceria com a Prefeitura e o Ministério Público Estadual, um catálogo com todas as informações das famílias que sempre moraram na Barra Nova. Este documento aponta o número de famílias e pessoas que vivem em cada casa, além de sua fonte de renda", diz. "Estes serão transferidos para a 4ª Secção da Barra, onde contarão com melhores condições de vida. Estaremos transferindo estes moradores para um local com as mesmas condições geográficas e próxima a Barra Nova, para que possam continuar com as atividades pesqueiras", diz. O superintendente fala ainda que a Suprg se comprometeu com a construção de um píer. "Nós estamos com a maquete, feita pelos próprios pescadores, onde funcionará um píer com todas as condições como água, luz, banheiros e galpões, onde os pescadores poderão guardar seus materiais, como as redes", conta. Vidal Mendonça diz que até o fim deste ano, será definido o prazo para a transferência dos moradores. "Nos próximos meses já saberemos quando começará a remoção", finaliza.
(Por Mônica Caldeira, Jornal Agora, 05/09/2006)
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