Moradores da Barra Nova protestam contra implantação de um terminal de celulose
2006-09-05
O Núcleo de Resistência dos Habitantes e Pescadores Nativos da Barra Nova realiza hoje
(04/09),
às 14h, passeata desde o bairro, passando pelo Tecon até a Via Um. A mobilização tem como
objetivo trazer à tona a problemática enfrentada pelos moradores da área, que terão que deixar
suas casas devido à implantação de um terminal de celulose. Durante a manifestação, os
moradores estarão entregando panfletos sobre a situação. Segundo a presidente do Núcleo,
Nilza Fonseca, os moradores não querem deixar o local. Ela diz que as casas que ficam junto
ao
morro, na entrada do bairro, foram cercadas, mas nenhum órgão público se posicionou sobre tal
atitude.
“Queremos defender nossas famílias e preservar as atividades econômicas da Barra Nova
como o comércio, a indústria e a pesca. Estamos realizando este manifesto, pois estas pessoas
não têm para onde ir. Além disso, a grande maioria mora no local há muito tempo, o que pode
ser
comprovado através de contas de água e luz. Além disso, se realmente fôssemos invasores como
a
Prefeitura alega, porque nós contamos com serviços públicos como o transporte coletivo?”,
questiona. “Estamos lutando por nossos direitos”, completa a presidente. A Barra Nova
localiza-se às margens da estrada da Barra e conta com igreja, 18 atracadouros (trapiches), 35
imóveis e benfeitorias de beneficiamento do pescado diário, conserto e confecções de redes, 12
botes com capacidade para cinco toneladas, 23 barcos com capacidade de 30 a 60 toneladas, 11
barcos com a mesma capacidade (Barra Velha) e mais um barco de 20 a 60 toneladas de São José
do Norte.
No total, são 43 embarcações que descarregam diariamente, utilizando os 18 trapiches do local,
gerando 300 empregos diretos e outros 300 indiretos. Nos barcos, trabalham com carteira
assinada 350 pescadores. O bairro gera ainda empregos indiretos, nos quais homens e mulheres
trabalham na seleção e beneficiamento do pescado, além de redeiros que consertam as redes. No
total, mais de 600 moradores trabalham no próprio bairro em atividades produtivas no período
de
defeso. Durante as estações quentes, a geração de emprego duplica devido à produção.
Outras atividades também estão no local, como a leiteria, que fornece leite puro para a
comunidade da Barra Nova e arredores, um restaurante, uma padaria, quatro minimercados e duas
lanchonetes. Na comunidade, ainda funcionam dois estaleiros e a praticagem da Barra.
Isolamento
A Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social (SMCAS) realizou o cadastramento das
famílias que moram no local para que possam ser transferidas para a 4ª Secção da Barra.
Depois
disso, diversas reuniões foram realizadas entre o Executivo e uma comissão de moradores. Mas
até o momento, nenhuma decisão definitiva foi tomada. Segundo moradores, a Superintendência
do
Porto do Rio Grande (SUPRG) não está permitindo a construção de residências na Barra Nova e
ainda cercou, com arame farpado, locais habitados. O Núcleo de Resistência alega que esta
atitude impede o trânsito de carros e pedestres.
“Com a presença do arame farpado, o deslocamento dos moradores fica ainda mais difícil, já que
moramos em um local com vários problemas de ordem pública. Agora, nossas casas estão isoladas
e fica impossível a entrada de veículos como ambulâncias e bombeiros, caso algo venha a
acontecer”, diz.
(Por Mônica Caldeira, Jornal Agora, 04/09/2006)
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