Mudança climática altera maturação de plantas, segundo estudo norte-americano realizado na Califórnia
2006-09-05
Todo jardineiro sabe que diferentes espécies vegetais maturam em tempos diferentes. Cientistas que estudam comunidades vegetais sabem que o fenômeno permite que as espécies coexistam, ao escalonar o consumo e, assim, reduzir a competição pelos recursos como água e iluminação solar. Agora, pesquisadores que estudaram um ecossistema natural na Califórnia encontraram evidências de que a mudança climática pode pôr em risco esse equilíbrio.
"Sob as condições atuais, as gramíneas florescem mais cedo e as flores silvestres mais tarde, mas quando aumentamos a concentração de gás carbônico para imitar as condições de daqui a 50 anos, os dois grupos floresceram ao mesmo tempo", disse Elsa Cleland, principal autora do trabalho, publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.
Nas décadas recentes, cientistas notaram uma aceleração da fenologia - o ritmo do desenvolvimento das plantas - e supuseram que se tratava de uma resposta ao aquecimento global. Pesquisadores criaram experimentos para determinar se outros fatores ligados à mudança climática global, como a concentração de dióxido de carbono e a deposição de nitrogênio no solo, poderiam alterar a fenologia também.
O aquecimento experimental acelerou o florescimento de todas as espécies, mas os cientistas ficaram surpresos ao ver respostas divergentes à elevação do CO2 e do nitrogênio. Para cada um desses fatores, as flores silvestres responderam florescendo mais cedo e as gramíneas, mais tarde. Como as gramíneas dominam o ecossistema, a pesquisa revela que a maior concentração de CO2 tem o efeito geral de retardar o desenvolvimento vegetal.
"Essa pesquisa mostra que o aquecimento global é apenas parte do quadro", disse o diretor do projeto de pesquisa, Christopher Field. "Respostas opostas de diferentes espécies à mudança global podem nos levar a subestimar o grau em que as comunidades naturais já estão respondendo" às novas condições do meio ambiente.
(Estadão, 04/09/2006)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/set/04/335.htm?RSS