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2006-09-05
A expressão “desenvolvimento sustentável”, criada em 1972 pelo Informe Brundtland das Nações Unidas, foi assumida pelos organismos internacionais e pelas políticas governamentais em todo o mundo. Entretanto, desde o início a expressão foi alvo de críticas devido à contradição entre seus dois termos. A categoria desenvolvimento provém da economia realmente existente (a capitalista), organizada pelos mercados, que hoje em dia estão articulados em nível mundial. A lógica interna desta economia é a exploração sistemática e ilimitada de todos os recursos terrestres para atingir três objetivos fundamentais: aumentar a produção, expandir o consumo e gerar riqueza.

Esta lógica implica um lento, porém progressivo esgotamento dos recursos naturais, a devastação dos ecossistemas e uma considerável extinção das espécies, na ordem de três mil ao ano, dez vezes mais do que em um processo evolutivo. Em termos sociais, cria desigualdades crescentes, já que substitui a cooperação e a solidariedade por uma feroz competição. Mais da metade da humanidade vive na pobreza. Este modelo supõe a crença em dois infinitos. O primeiro presume que a Terra possui recursos ilimitados. O segundo, que o crescimento econômico pode ser infinito. Ambos são ilusórios.

A Terra não é infinita porque é um planeta pequeno, com recursos limitados, muitos deles não renováveis. Se quisermos universalizar este tipo de crescimento, necessitaremos do triplo dos recursos que nosso planeta tem. Hoje, nos damos conta de que o planeta Terra já não suporta a voracidade e a violência deste modo de produção e de consumo. Apesar das críticas, o conceito desenvolvimento sustentável pode ser útil para qualificar um tipo de desenvolvimento em regiões delimitadas e em ecossistemas definidos. Postula a possibilidade de preservar o capital natural, priorizar o uso racional dos recursos e manter a capacidade de regeneração de todo o sistema.

É possível, por exemplo, uma utilização das riquezas naturais da floresta amazônica de maneira que conserve sua integridade e permaneça aberta às demandas das gerações presentes e futuras. Porém, em termos de estratégias globais – que englobam todo o planeta com seus ecossistemas – o imperante paradigma utilitário, devastador e consumista, produz uma taxa de iniqüidade ecológica e social insuportável para a Terra. A solução deve ser encontrada em um novo modelo de convivência entre natureza, Terra e Humanidade, que dê centralidade à vida, mantenha sua diversidade natural e cultural e garanta o substrato físico-químico-ecológico para sua perpetuação e posterior co-evolução.

E aqui é onde se cruza com a questão da ética. Hoje, como nunca antes na história do pensamento, a palavra “ethos” adquire atualidade em sua acepção original. Ethos em grego significa morada humana, o espaço da natureza que reservamos, organizamos e cuidamos para transformar em nosso hábitat. Atualmente, ethos não é apenas a morada que habitamos, a cidade onde vivemos ou o país ao qual pertencemos. Ethos é a Casa Comum, o planeta Terra. Conseqüentemente, necessitamos de um Ethos planetário.

O fundamento desta nova ética está exposto em dois documentos. O primeiro – a Carta da Terra – é internacional e foi assumido pela Unesco em 2000. O segundo foi aprovado em 2002 pelos ministros do Meio Ambiente latino-americanos e se intitula “Manifesto pela Vida, por uma Ética para a Sustentabilidade”. Ambos têm muito em comum com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas.

Utilizarei livremente as proposições destes textos com uma elaboração pessoal. O pano de fundo está bem expresso na introdução da Carta: “As bases da segurança global estão ameaçadas”. Esta situação nos obriga a “viver um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade da vida terrestre bem como com nossas comunidades locais”. A situação é tão urgente que obriga a “humanidade a escolher seu futuro. A opção é a de formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou enfrentar nossa destruição e a devastação da diversidade da vida”.

A Terra, a vida e a humanidade são expressões de um mesmo e imenso processo evolutivo, que começou há 13 bilhões de anos, e formam uma única realidade complexa e diversa. A Terra é Gaia, um superorganismo vivo. O ser humano (cuja origem filológica vem de “húmus”, que equivale a terra fértil e boa) é a própria Terra que sente, que pensa, que ama, que cuida, que venera. A missão do ser humano, como portador de consciência, inteligência, vontade e amor, é cuidar da Terra, ser o jardineiro deste esplêndido Jardim do Éden. Mais do que falar de desenvolvimento sustentável, importa assegurar a sustentabilidade da Terra, da vida, da sociedade e da humanidade.

Bem diz o Manifesto pela Vida: “A ética da sustentabilidade coloca a vida acima do interesse econômico-politico ou prático-instrumental; a ética da sustentabilidade é uma ética para a renovação permanente da vida, da qual tudo nasce, cresce, adoece, morre e renasce”. O resultado desta ética é o que mais buscamos nestes tempos: a paz. Na definição da Carta, a paz “é a plenitude criada mediante relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, com outras culturas, com outras vidas, com a Terra e com o todo maior do qual somos parte”.
(Por Leonardo Boff, Envolverde, 04/09/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=22187

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