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2006-09-05
A meteorologia alertava. Os avisos eram de que o mar não estaria muito receptivo essa semana. Assim, Agenor Salustiano da Silva logo tratou de providenciar a alimentação da família em outro local. Com 66 anos de idade e mais de 40 deles dedicados à pescaria, o morador da localidade de Ilhas, em Araranguá (SC), já está acostumado com a falta dos peixes quando há mau tempo. Mas, antes fosse somente o prenúncio de uma tempestade para deixá-lo triste e sem o alimento diário. O que o preocupa, e também a todos os outros moradores da comunidade à beira da foz do Rio Araranguá, vai muito além de um simples temporal. Para eles, a fúria da natureza não chega aos pés da ignorância dos homens. São os homens que poluem, sendo responsáveis direitos pela escassez dos peixes em toda a região.

Salustiano pesca o ano inteiro. No entanto, os bagres, pampos, tainhas, robalos e corvinas que pegava há tempos não se comparam aos que hoje são capturados. "Você precisa ver quando chove lá pra cima", diz, apontando em direção à nascente do rio. "Aparece de tudo por aqui. E os peixes, coitadinhos, ficam todos mortos. Ficam boiando no rio." O pescador ressalta que tem épocas que os peixes fazem a alegria dos moradores; vêm em abundância. Mas, em compensação, na maioria das vezes, é a esperança que motiva os pescadores a continuarem na lida diária.

Características locais sempre dificultaram procriação da fauna
Mesmo assim, de certa maneira, eles até se sentem privilegiados. Eles fazem parte do pequeno grupo de habitantes da região que têm o privilégio de ainda encontrar peixes nos rios. Fato raro, nos dias de hoje. Nadja Zim Alexandre, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas (Ipat) e professora da Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (Unesc), explica que a natureza nunca contribuiu muito para que os rios das regiões Carbonífera e do Extremo Sul do Estado comportassem imensidades de espécies. A declividade acentuada, as fortes corredeiras e os seixos no fundo dos rios são barreiras naturais que reduzem as possibilidades de perpetuação dos peixes. Somada a esses fatores, a poluição com os resíduos de carvão, rejeitos da agricultura e a falta de saneamento básico acabam por praticamente extinguir quaisquer possibilidades de procriação das espécies.

Poluentes da mineração, da agricultura e dos esgotos
Os rios Sangão e Mãe Luzia são provas de que a poluição responde também pela falta de fauna nos locais. Com nascente em Siderópolis, o rio Sangão é o que carrega a maior carga de poluentes de toda a bacia do rio Araranguá. Contaminado por rejeito de carvão, ele ainda colhe os prejuízos da mineração desenfreada, de acordo com Nadja. Além disso, é o rio Sangão, em contato com o rio Criciúma, que recebe todo o esgoto doméstico e industrial do maior município do Sul do Estado. "Somente o esgoto do bairro Próspera e dos bairros próximos à Linha Batista não vão para o rio Sangão. Eles seguem para o rio Urussanga", afirma a pesquisadora. O rio Sangão encontra o rio Criciúma e é um dos afluentes do rio Mãe Luzia.

Com os resíduos de carvão e os dejetos da falta de saneamento básico concentrados nos rios Sangão e Criciúma, o rio Mãe Luzia ainda recebe rejeitos da agricultura do rio Itoupava - que nasce em Jacinto Machado com o nome de rio das Pedras e forma também o rio Araranguá. Tirando o esgoto de Criciúma e de Araranguá, o rio Araranguá recebe ainda o esgoto de outros doze municípios. "Do total de carga poluente de origem inorgânica (metais, sulfatos) que chega ao rio Araranguá, 83% é proveniente do rio Sangão. O levantamento, realizado em 1995, aponta que, na foz do Sangão, o pH está entre 2,6 e 3,2, ou seja, elevada concentração de acidez e metais", ressalta.
(Por Vanessa Feltrin, A Tribuna – Criciúma/SC, 04/09/2006)
http://www.atribunanet.com/home/site/ver/?id=36499

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