Ministério da Saúde quer aumentar diagnóstico de doenças provocadas pelo amianto
2006-09-04
O Ministério da Saúde iniciou um projeto de capacitação dos médicos que atuam na rede pública para que esses profissionais saibam identificar doenças causadas pela exposição ao amianto, como o câncer de pulmão. De acordo com o coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Marco Antonio Pérez, no Brasil os médicos têm muitas dificuldades para diagnosticar doenças relacionadas ao trabalho em geral.
“Hoje, a qualificação da maioria dos profissionais de saúde do Brasil, seja de saúde pública, seja do setor privado, ainda está aquém da necessidade para fazer os diagnósticos de todas as doenças relacionadas ao trabalho no país”, afirma o coordenador.
Em relação ao amianto, o problema é maior porque as doenças, muitas vezes, demoram entre 15 e 20 anos para se manifestar, explica Pérez. “No caso do amianto é mais difícil ainda porque existe um período de latência muito grande entre a exposição e o desenvolvimento da doença. Então, estamos trabalhando num projeto de capacitação dos profissionais do SUS (Sistema Único de Saúde)”. Segundo ele, a capacitação é feita por meio de cursos de especialização e de manuais.
O amianto é uma fibra mineral usada como matéria-prima nas indústrias da construção civil, têxtil, química e no setor automotivo, entre outros. Desde 1995, o uso do amianto é proibido no Brasil. Mas a variedade conhecida como crisotila foi permitida a partir de 1997, em função de propriedades como a alta resistência da fibra ao calor.
Segundo o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Hermano Albuquerque de Castro, entre 70 e 90 pessoas morrem por ano vítimas de apenas um tipo de câncer provocado pelo amianto, o mesotelioma de pleura (membrana que envolve o pulmão). De acordo com ele, esse é o número de casos registrados, mas, na realidade, o problema atinge um número maior de trabalhadores.
Castro afirma que 11 estados, sobretudo das regiões Sudeste e Sul, concentram 83% dos diagnósticos médicos. Segundo o pesquisador, não significa que o amianto não faça vítimas nas demais regiões, mas sim que nos estados do Centro-Oeste, Nordeste e Norte os casos são menos diagnosticados, “por falta de estrutura e de médicos capacitados”.
Associação diz que 25% das indústrias já utilizam fibras alternativas ao amianto
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias e Distribuidores de Produtos de Fibrocimento (Abifibro), João Carlos Duarte Paes, informou que entre 25% e 28% das empresas do setor utilizam fibras alternativas ao amianto, como o polipropileno, que já é produzido no Brasil. A Organização Mundial de Saúde considera o amianto uma substância cancerígena.
“O Brasil hoje tem essas fibras alternativas confiáveis, que foram estudadas pelo Ministério da Saúde, por meio da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e recomendadas para serem uma alternativa ao amianto nos produtos de fibrocimento”, disse.
Segundo ele, a Convenção n° 162 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) orienta que essa substituição seja feita, se houver tecnologia e matérias-primas confiáveis.
De acordo com Paes, a estimativa é que o setor de fibrocimento produza este ano dois milhões de toneladas e que seja responsável por pelo menos metade da produção nacional de coberturas (telhas).
Empresas terão de comunicar ao SUS contato de trabalhador com amianto
Empresas e indústrias brasileiras deverão informar anualmente ao Sistema Único de Saúde (SUS) a lista de trabalhadores que manipulam o amianto, substância considerada cancerígena pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A determinação está prevista na portaria 1851, de 9 de agosto de 2006, assinada pelo ministro da Saúde, Agenor Álvares. As novas regras já entraram em vigor.
Além de dados da empresa e do empregado, a lista deve conter os exames realizados para acompanhar o quadro de saúde do trabalhador, como radiografia de tórax e prova de função pulmonar, com o diagnóstico médico. As informações devem ser encaminhadas aos SUS até o primeiro dia útil de julho.
O coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do ministério, Marco Antonio Pérez, explica que o objetivo é monitorar a ocorrência de doenças provocadas pelo amianto no país, para preveni-las ou tratá-las precocemente.
Segundo o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Hermano Albuquerque de Castro, estima-se que no Brasil cerca de 300 mil trabalhadores estejam expostos diretamente ao amianto, matéria-prima usada principalmente nas indústrias da construção civil, têxtil, química e no setor automotivo.
A inalação da poeira da substância pode provocar doenças como a asbestose, um processo de fibrose do pulmão que pode levar à morte por insuficiência respiratória, e tipos de câncer como o carcinoma broncogênico de pulmão e o mesotelioma de pleura (membrana que envolve o pulmão).
De acordo com dados da Fiocruz, entre 70 e 90 pessoas morrem por ano vítimas de mesotelioma, em conseqüência da exposição ao amianto. Mas, segundo o coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, a maior parte dos casos não entra nas estatísticas oficiais. “Temos no país uma subnotificação de doenças do trabalho, principalmente doenças causadas pelo amianto”.
Marco Antonio Pérez afirma que, principalmente nos casos de câncer, a doença só se manifesta 15 ou 20 anos após o período de exposição ao amianto. “Quando a pessoa procura o serviço de saúde e é feito o diagnóstico da doença, não se faz a relação entre o tipo de câncer que a pessoa está apresentando e a exposição ao amianto que ocorreu no passado, então os nossos dados são escassos”.
Segundo ele, mesmo em relação aos casos registrados, houve um aumento na última década de doenças relacionadas ao amianto entre os brasileiros.
Desde 1995, o uso do amianto é proibido no Brasil. Mas a variedade conhecida como crisotila foi permitida a partir de 1997, em função de propriedades como a alta resistência da fibra ao calor e a impactos diversos. “O Brasil, na década de 90, optou não por banir o produto, mas o Congresso Nacional votou pelo uso controlado do amianto”, explica Pérez.
O coordenador defende, no entanto, a proibição total da substância no Brasil, medida que, segundo ele, foi adotada por mais de 60 países. “Todas as variedades de amianto causam danos à saúde”, ressalta.
(Por Juliana Andrade, Agência Brasil, 02/09/2006)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/09/02/materia.2006-09-02.7283358356
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/09/02/materia.2006-09-02.4684712338
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/09/02/materia.2006-09-02.2228688264